- Rá,rá, rá.- disse
secamente - Você vai ficar só pensando nessa aposta idiota durante os próximos
quatro meses?
Arthur arreganhou
um sorriso meio safado e me deu um tapinha nas costas.
- Claro que não.
Logo, logo vou estar apaixonado e não vou ter mais muito tempo para curtir a
minha vitória. - Respondeu dando um puxãozinho em meu cabelo, e foi embora.
Arrastei para meu
armário aquele enorme livro de física que mais parecia de chumbo. Mal tinham
dado às dez horas, e o dia já estava com cara de ser o pior de toda a minha
vida no colegial.
Fechei a porta do
armário com tanta força que, além do barulho, fiz chacoalhar todo o conjunto de
madeira em volta.
- Mal dia no
trabalho, querida? – comentou uma voz sacana, se fazendo de meiga.
- Mel... Liguei pra
você umas cinco vezes ontem.
- Desculpe. Meu pai
insistiu para que nós visitássemos o Museu de Cera, quando voltávamos de
Monterrey. Daí demoramos mais meio dia andando de carro e só chegamos tarde da
noite. Meu traseiro ainda está adormecido de tanto tempo que fiquei sentada.
Dei uma risada e a
abracei forte. Depois do Arthur, Mel Fronckowiak era a minha melhor amiga. Muito
alta, magra e morena, ela tinha aquele olhar perdido que se vê nas modelos de
revistas de moda. Era, porém, muito realista e não se considerava nada de
especial. Ao contrário, chegava mesmo a se achar um tanto esquisita por não ter
muito seio.
- Então, como foi a
reunião da família Frazier? – perguntei.
Ela olhou para o
teto e juntou as mãos como quem reza:
- Meu pai e meus
tios ficaram três dias competindo para ver quem era o melhor pescador. À noite
eles jogavam xadrez até tarde, e isso provocava chiliques em minha mãe.
Enquanto isso, meus priminhos a toda hora precisavam trocar as fraldas. E
adivinhe quem é que sobrou para tomar conta dos pimpolhos?
- Em outras
palavras, foi exatamente como você esperava.
Peguei um pente de
dentes largos em meu bolso. A umidade estava fazendo com que meu cabelo ficasse
todo crespo e, se não cuidasse dele, iria acabar parecendo que tinha um
vassourão na cabeça. Ellen segurou meu livro de historia para que eu pudesse me
pentear direito. Fazia mais de dois anos que a gente fazia essas mesmas coisas.
- Sim, foi
exatamente como eu pensava.- ela confirmou - Mas aconteceu uma surpresa legal.
- Já sei, você se
apaixonou pelo seu instrutor de equitação – arrisquei, pegando de volta o livro
de historia.
- Muito melhor. –
respondeu ela, com um sorriso malandro.
Maaaaaais
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