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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sete da Manhã 1º Parte


Nova Web só terá 2 partes..




Status: Em andamento
Categoria: McFly Fics
Sub-Categoria: Drama

Lua? – A mãe da garota batia na porta do quarto, insistentemente, mas ela não respondia – Acorde querida, vai se atrasar para a aula... 
Há semanas aquela cena se repetia. As noites da menina eram terríveis. Ela não dormia direito há muito tempo, e quando acabava por pegar no sono tinha sonhos horríveis. Mas nenhum pesadelo era pior que a realidade. Acordar e constatar que teria de enfrentar mais um dia. 
- Já vou, mãe... – Lua respondeu, a voz sem sentimento algum. Pôde ouvir o suspiro que veio do outro lado da porta trancada. Ela realmente estava tentando não preocupar sua mãe, pois sabia que ela sofria vendo-a assim. Não queria ver a única pessoa que ainda lhe importava triste. Mas estava cada dia mais difícil tentar fingir que estava tudo bem. 
- Ok, filha... O café da manhã está na mesa... Estou indo trabalhar. 
O silêncio se fez presente, até ser quebrado por barulho de passos. Sua mãe provavelmente esperava alguma resposta, mas ao perceber que ela não viria, seguiu seu rumo. Lua achou melhor não dizer mais nada, pois as lágrimas já estavam escorrendo novamente, e sua mãe talvez percebesse. 

A garota passou pela cozinha sem nem tocar no café da manhã, estava sem fome. Pegou a mochila com o material do dia anterior mesmo, não faria diferença, há dias ela não prestava atenção nenhuma nas aulas. Ia para a escola apenas para não ser reprovada por faltas, mas se continuasse assim, seria reprovada por notas. Não que perder o ano fosse algo que lhe importasse muito, depois de tudo que já perdera. Nada mais lhe importava. 
Fez o caminho para a escola a pé. Caminhou lentamente e silenciosamente. Parecia um fantasma vagando pelas ruas frias da cidade, alheia a toda movimentação, a todas as pessoas. Estava atrasada, mas isso também não a incomodava. 
Chegou ao colégio quase trinta minutos depois do início da primeira aula. Sentou-se em um banco do pátio e aguardou, impaciente, o início da segunda. Quando o sinal finalmente tocou, ela subiu as escadas e se dirigiu à sala. Bateu na porta e a professora de física a abriu. 
- Novamente atrasada, senhorita Blanco? – Ela a encarou com desprezo. A professora não gostava nem um pouco da menina e não fazia questão de tentar disfarçar. Lua não dava motivos para que gostassem dela ultimamente, mas, de qualquer maneira, aquele sentimento era recíproco. 
- A senhora notou? – Ela respondeu indiferente, entrando. 
- Cuidado com a forma como fala comigo, mocinha... – A garota, porém, nem ouvia. Encaminhou-se para sua carteira no fundo da classe, mas a frase seguinte da professora conseguiu despertar sua atenção – E espero que seu trabalho tenha ficado muitíssimo bom, acredito que você não queira ficar retida na minha matéria. Assim que terminar a apresentação dos seus colegas, que a propósito a senhorita interrompeu... – ela apontou para dois meninos parados em frente à turma e Lua acompanhou o olhar - ... será a sua vez. 
- Minha vez? – Ela repetiu assustada. Esquecera totalmente daquele seminário. 
- Sim, algum problema? – A professora sorriu satisfeita. Lua abriu a boca para falar, mas não conseguiu dizer nada. Então um garoto, do outro lado da classe, se levantou e respondeu por ela: 
- Problema nenhum, senhora Hilton. – Ele se aproximou de Lua e a puxou pelo braço, fazendo-a se sentar e sentando-se em seguida, enquanto os outros meninos voltavam à sua apresentação. 
O garoto mexia impaciente em alguns papéis e ela o olhava sem entender. Antes que pudesse perguntar, no entanto, ele disse: 
- Qual o seu número na chamada, mesmo? 
- Por quê? 
- Para que eu coloque no trabalho, oras! – Ele falava baixo e próximo a ela, para não atrapalhar o seminário – Ou você quer mesmo repetir em física, como a senhora Hilton falou? 
- Não... Acho que não... - Lua ainda não estava entendendo a situação muito bem. 
- Aqui... – O menino entregou-lhe uma folha – Leia, você tem uns quinze minutos no máximo para entender o que está aí e poder apresentar. É pouca coisa e é a parte mais fácil, você consegue. 
- Ok... – Ela concordou e olhou o papel, respirando fundo. Depois voltou a encarar o garoto – Obrigada... ahn, qual o seu nome mesmo? 
- A gente estuda junto desde o ano passado e você ainda nem sabe meu nome? – Ele deu um sorriso triste. 
- Desculpa... – Lua pediu sem graça, sem saber o que responder. 
Arthur Aguiar – O menino falou e voltou sua atenção para as folhas de papel, encerrando o assunto. Lua fez o mesmo. 

- É... Muito bom... – A senhora Hilton comentou contrariada, fazendo anotações ao fim do seminário de Lua e Arthur, o resto da turma aplaudia. 
- Eu disse que você conseguiria... – O menino se aproximou e sorriu. Parecia querer abraçá-la, mas não tinha certeza se deveria, então apenas acrescentou – Você foi ótima. 
Lua não respondeu, simplesmente sorriu meio tímida. E os dois voltaram aos seus lugares. 
Arthur...? – Ela chamou incerta pelo rapaz que havia adotado permanentemente o lugar perto dela. Arthur levantou a cabeça e a olhou, esperando que ela continuasse – Obrigada... Você não tinha porquê fazer isso por mim... 
- Você já agradeceu... – Ele sorriu novamente e ignorou a segunda parte do comentário dela – E eu cobrarei o favor, não se preocupe... – Arthur fez uma cara maliciosa e Lua sentiu um arrepio percorrer seu corpo. 

Os dias passaram sem maiores acontecimentos significativos. No início, Arthur sempre cumprimentava Lua, simpático e sorridente, tentava puxar assunto. Ela, no entanto, não fazia questão de prolongar as conversas e ele acabou desistindo aos poucos. Ou pelo menos a garota assim achava. 
Suas notas estavam cada vez piores. Não fazia os trabalhos, não estudava para as provas, nem ao menos prestava atenção nas aulas. E então o diretor lhe chamou em sua sala. 
- Sente-se senhorita Blanco, por favor... – O homem comentou prestativo, apontando para uma cadeira vazia em frente a sua mesa. Lua se sentou e ele fez o mesmo em seguida, acrescentando – Eu preciso falar com a senhorita, e imagino que já saiba o porquê, não? 
A menina não respondeu, mas obviamente sabia. Apenas abaixou a cabeça e o diretor completou: 
- Suas notas estão muito baixas... Em todas as matérias... Se continuar assim repetirá o ano... – O diretor falava em certo tom de tristeza. Lua gostava tanto dele, era um velhinho extremamente bondoso. Era estranho, mas doía vê-lo assim, decepcionado com ela. Concordou com um sinal de cabeça, mas permaneceu em silêncio – Querida, eu sei que você passou por momentos muito difíceis... Mas a vida continua. 
Lua segurou com todas suas forças as lágrimas. Não iria chorar, não na frente dele. Respondeu com dificuldade: 
- Eu prometo que farei o possível para melhorar, eu prometo... – E saiu correndo da sala, sem nem pedir autorização ou esperar uma resposta. 
Já nos jardins da escola, ela se sentou na grama, entre troncos de uma árvore, e se entregou. 
Não podia continuar assim, decididamente não podia. Mas não sabia o que fazer ou como fazer. Ela pensava que não suportaria, duvidava que pudesse ser feliz novamente. Mas não achava justo desperdiçar a sua vida, enquanto ele... Só de pensar nele o choro se tornava mais intenso, seu coração ficava mais apertado. Ela esperava que o tempo curasse aquelas cicatrizes, mas a cada dia ficava mais descrente quanto a isso. A dor, a angústia, o medo, a tristeza, a solidão... Eram sempre as mesmas. Nada mudaria o que acontecera. E ninguém poderia ajudá-la. 
- O que houve? 
A garota olhou na direção em que a voz vinha, assustada. Tentou enxugar as lágrimas rapidamente, mas não obteve muito êxito. O rapaz, porém, ajudou-a a fazer isso. 
- Por que você está chorando? – Ele passou as mãos delicadamente pelo rosto dela, sua expressão era de preocupação. Lua teve que lutar contra o impulso de se jogar nos braços dele e continuar a chorar. Ao invés disso, adotou a mesma postura fria de sempre e disse sem emoção: 
- Acho que não lhe interessa, não é, Aguiar? 
- Interessa mais do que você imagina... – Ele respondeu sem olhá-la, fazendo menção de se levantar, mas a garota, num impulso, o segurou pelo braço. Arthur voltou-se para ela novamente, indiferente, enquanto Lua respirava fundo e fechava os olhos, segurando as lágrimas e engolindo o orgulho. 
- Ok, vamos fingir por um momento que você se importa... – Ela começou, mas logo fez uma pausa, enquanto o garoto se acomodava no chão ao lado dela – Eu apenas estou preocupada porque, muito provavelmente, irei repetir o ano... 
- As provas finais desse bimestre são daqui a duas semanas... E ainda teremos o próximo, não dá tempo de você recuperar as notas? – O menino parecia desconfiado, não acreditando muito no que ela dizia. 
- Se eu for bem nessas provas sim, eu tenho chance de me recuperar no próximo bimestre... Mas aí está o problema, eu não vou bem nessas provas. 
- Uau, quanto otimismo... 
- Realismo, Arthur... -  Lua  encostou-se no tronco da árvore às suas costas, cobrindo o rosto com as mãos – Eu perdi muita matéria, faltei demais esse ano... E quando vinha não prestava atenção às aulas, não fazia as tarefas e trabalhos... Eu não sei praticamente nada do que foi dado no ano letivo, começar a estudar agora não vai adiantar nada... 
- Eu posso te ajudar... – Arthur ofereceu, com um meio sorriso – Eu não sou tão bom aluno assim, mas acredito que posso lhe ser útil... 
- E eu vou aprender a matéria de um ano em duas semanas, uhul! –  Lua comentou irônica. 
- Se você se esforçar... Consegue – O garoto falou tão certo disso que ela quase acreditou. Mas perguntou ainda receosa: 
- Por que você faria isso por mim? 
- Eu não quero mais te ver como vi hoje... –  Lua  sentiu tanta sinceridade nas palavras que seu coração se apertou, sentindo-se culpada. Ele continuou, fazendo uma carinha fofa – Então vamos fingir por um momento que é por isso que você estava mal quando eu cheguei e resolver isso... Você não vai repetir. 
A menina sentiu o rosto quente vendo-o a imitar. Acrescentou sem passar confiança nenhuma no que dizia: 
- É claro que era por isso que eu estava chorando, ok? 
- Isso tudo é só parte das conseqüências de algo maior. A razão pela qual você faltou às aulas e não prestou atenção nas matérias e pela qual, agora, você pode perder o ano. Eu não sei qual essa razão, mas sei que era por ela que você estava chorando. – Filosofou enquanto a garota o olhava assustada. Em seguida riu e completou – Falando assim parece uma grande descoberta, mas é realmente meio óbvio, não? 
Lua  não respondeu. 
- Na minha casa ou na sua? – Arthur então perguntou.  Lua  o olhou ainda mais assustada e ele voltou a rir – Para estudar. Melhor começarmos hoje mesmo, não acha?
- É... E na minha casa... – Ela respondeu não muito certa, achando que lá estaria mais “segura”. 

A campainha tocou e  Lua  foi atender. Encontrou um Arthur ofegante, mas que pôde esboçar um sorriso quando a viu. 
- Desculpe o atraso, mas... A culpa foi sua! 
- Minha? – Ela falou indignada fazendo sinal pra que ele entrasse. 
- Sim, você explicou muito mal como chegar aqui – Ele fez cara de inocente, enquanto passava pela porta e Lua a fechava – Mas enfim, eu cheguei e sobrevivi, é o que interessa, certo? – A garota ficou em silêncio e ele tentou encontrar algo que pudesse ter feito ou falado de errado – Tudo bem,  Lua 
- Tudo... Vamos? – Ela respondeu e saiu andando em direção à sala, sem esperar por uma resposta do garoto. Sentou-se na mesa que lá havia e o convidou a fazer o mesmo – Fique a vontade... 
- Obrigado – Arthur respondeu colando a mochila em cima da mesa e puxando a cadeira à esquerda da garota para se sentar – O que quer fazer primeiro? 
Ela observou os livros e cadernos espalhados por lá, pois já havia começado, ou tentado, estudar. Encarou o garoto com uma cara de leve desespero. 
- Matemática. 
- Ótima escolha... – Ele ergueu a sobrancelha e suspirou – Sabe, eu odeio matemática... – Ele deu ênfase enorme à palavra “odeio”. 
- É, eu também... –  Lua  sorriu levemente. O menino ficou olhando-a por um tempo, admirando aquele gesto, tão raro de se ver nela, e não pôde não sorrir junto. Balançou a cabeça tentando desviar à atenção. 
Quase quatro horas se passaram com os dois estudando sem parar, até  Lua  deitar a cabeça sobre os cadernos, exausta. 
- Eu não agüento mais... 
- Nossa, passou muito tempo, eu nem tinha notado... – Arthur comentou olhando o relógio na parede a sua frente, mas no qual mal tinha reparado. 
- Minha mãe está pra chegar do trabalho... E a gente ainda está aqui, cara, eu sou uma anfitriã muito ruim... – Ela riu, se levantando e começando a juntar as coisas – Você quer beber ou comer alguma coisa? 
- Não, obrigado... E... você está me mandando embora? 
- Mais ou menos... Imagino que seja isso que você queira fazer não é? Eu já ocupei muito do seu tempo... 
- Não se preocupe, eu me propus a te ajudar e você pode usar o tempo que quiser... Posso ficar mais sem problema algum. 
- Você já ajudou bastante, muito mesmo. Eu continuo estudando sozinha as matérias que tenho mais facilidade... E quando você puder, volta. 
- Certo – Ele concordou se levantando finalmente e alongando as costas, com uma cara de dor – Eu entendi que você quer que eu vá antes que sua mãe me veja... 
- Não, não é isso... Mas Arthur, já é noite e... – Ela tentava se explicar, enquanto ele ria – O que você acha de tão engraçado em tudo? 
- O seu jeitinho... – Ele deixou a garota sem reação com aquela simples frase – Eu só estou brincando, ok? 
Eles continuaram arrumando as coisas em silêncio. Apenas o barulho de uma porta se abrindo, ao longe, os interrompeu. 
- Ela chegou... –  Lua  informou. 
- Filha?! – Um grito chamando por ela pôde ser ouvido, e depois sons de passos. 
- Oi, mãe – A menina respondeu quando a mulher já se encontrava entrando na sala. 
- Olá, querida... – Ela se aproximou e só então percebeu que havia mais alguém ali – E olá, rapazinho... Mas quem você seria? 
Arthur Aguiar – Ele respondeu estendendo a mão para cumprimentá-la. 
- Você é namorado da minha filha? 
- NÃO, MÃE! –  Lua  revirou os olhos, enquanto Arthur olhava pra baixo – Ele é meu amigo e veio me ajudar com umas matérias... 
- Ah... – Num primeiro instante a mulher pareceu meio decepcionada por ouvir aquilo, mas acrescentou simpática – Que bom que você veio... A  Lua  realmente está precisando de ajuda, não só com a escola. Eu não sei mais o que fazer, desde que... 
- MÃE! – A garota interrompeu, irritada – Por favor, chega. 
- Tudo bem, desculpe, querida... Foi um prazer conhecê-lo, Arthur, volte sempre. 
- O prazer foi meu, senhora... – Se o garoto pretendia dizer mais alguma coisa,  Lua  não permitiu, o puxando pelo braço pra fora da sala e levando-o até a porta – Não fique assim, Luinha... Eu adorei conhecer sua mãe. 
- Quem deixou você me chamar de Luinha? – Ela o encarou com os olhos semi-cerrados, mas não estava mais irritada, gostava que a tratassem pelo apelido – E ok, minha mãe é uma pessoa maravilhosa. Ela só... fala demais. 
- Então, estou indo... – Arthur informou depois de alguns segundos de silêncio – A gente se vê amanhã. 
- Sim, tchauzinho e... Muito obrigada –  Lua  falou tímida, sem saber como se despedir dele... Com um aperto de mão, com um abraço ou com...? 
- De nada – Arthur respondeu e decidiu por ela, se aproximando rapidamente e lhe dando um beijo carinhoso na bochecha. Ele demorou muitas vezes mais para se afastar do que havia demorado para se aproximar, o que deu tempo a  Lua  para recuperar os sentidos e abrir a porta para que ele saísse. 

No dia seguinte, Arthur se encontrava na casa de  Lua  novamente. A garota estava tímida e insegura com tanta atenção, mas realmente precisava daquela ajuda e acabou aceitando sem que o rapaz insistisse muito. 
- Quer estudar química agora? – Ele perguntou depois de algumas horas sentado com ela na mesa da mesma sala do dia anterior. 
- Acho que você já percebeu que meus maiores problemas são com exatas, não é? – Lua  respondeu com outra pergunta, sem tirar os olhos do caderno que usava para resolver um exercício.
- Acredito que seja o problema da maioria dos alunos... 
- Pois é... Arthur, você poderia buscar o meu livro de química, por favor? Eu queria conseguir terminar isso aqui... 
- Claro – Ele empurrou a cadeira e se levantou – Onde ele está? 
- No meu quarto... Suba as escadas e vire à direita. 
- Ok – O menino concordou e seguiu o caminho indicado por ela. Não foi difícil encontrar o quarto, mas foi quase impossível descobrir onde o livro poderia estar guardado. 
- Aqui também não está... – Ele falava sozinho enquanto fechava uma mochila que achara em cima da cama. Não estava entre os livros da estante, nem no armário. Arthur estava ficando com vergonha por fuçar tanto nas coisas dela, mas não era proposital, o que serviu de consolo quando ele abriu uma gaveta e se deparou com calcinhas e sutiãs. Rapidamente a fechou e procurou na seguinte. Ao retirar os livros e cadernos que lá estavam, algo caiu. Uma foto. 
O rapaz sentiu os olhos arderem e o coração ficar apertado, por diversos motivos. Era uma foto de  Lua  com um menino, fazendo caretas. O garoto da foto a abraçava pela cintura e eles pareciam realmente felizes. 
- O que você está fazendo? 
Arthur caiu sentado, literalmente, com o susto que as palavras não esperadas de  Lua  o causaram. 
- Eu procurava o seu livro quando essa foto caiu de um deles... – Ele se levantou e entregou a foto à menina, que nem ao menos a olhou, colocando-a no lugar onde estava, pegando o livro de química, naquela mesma gaveta, e fechando-a novamente. 
- Desculpe perguntar... Mas quem era na foto contigo? – Arthur temia a reação de  Lua, mas não poderia deixar de questionar.
- Meu ex-namorado – Ela foi clara e objetiva. 
- Ex? Por que você ainda tem fotos dele guardadas? Ainda gosta dele? 
- Não acha que está fazendo perguntas demais? – Ela o olhou por um instante e deu-lhe as costas, indo em direção a porta do quarto. 
- Acho que sim... Desculpe novamente, é só que... eu tive a impressão que o conhecia... 
Lua  parou abruptadamente ao ouvir aquilo e se virou pra ele novamente, que completou: 
- Ele estudava no nosso colégio, né? 
- Estudava –  Lua  respondeu simplesmente, finalmente deixando o quarto e sendo seguida por Arthur. 
- Você está brava comigo? - O rapaz perguntou quando ambos já guardavam as coisas e ele se preparava pra ir embora. 
- Não, por que estaria? 
- Não sei, mas você ficou calada o tempo todo... Desde que eu vi aquela foto... Você sabe que eu não estava mexendo nas suas coisas, eu só estava... 
- Sim, eu sei... – Ela forçou um sorriso enquanto o acompanhava até a porta – Não estou brava, é impressão sua. 
- Então você vai aceitar sair comigo amanhã, certo? 
- O quê? – A expressão de susto aliada a certo pânico que surgiu no rosto dela era indescritível. Arthur ergueu as mãos. 
- Calma... Luinha, amanhã é sábado, você não vai ficar estudando a tarde toda, não é? Vamos dar uma volta... À tarde – Deu ênfase a ultima palavra, deixando claro que queria apenas dar um passeio com ela. 
- Obrigada pelo convite, mas... Sim, eu pretendo passar o dia estudando, eu preciso - Lua  falou e pôde perceber o desapontamento no rosto dele – Fica pra uma próxima, ok? 
- Ok, combinado – Ele sorriu sinceramente – Quando essas provas passarem você sairá comigo pra comemorarmos as suas boas notas – Ele afirmou, se aproximando e lhe beijando a bochecha, como fizera no dia anterior. 

E as expectativas de Arthur foram confirmadas. Quase duas semanas depois, ao fim das provas e com as notas entregues,  Lua  não poderia querer resultados melhores. 
- Cara, eu tirei 9.5 em matemática, tem noção disso? – Ela perguntou empolgada dando pulinhos ao observar as notas no boletim. Arthur ria – Acho que foi minha maior nota nessa matéria na vida toda! E graças a você, Arthur, obrigada! 
Sem pensar muito ela o abraçou. 
- Opa, desculpa... – A garota se afastou envergonhada, depois de perceber o que fizera – Acho que exagerei... 
- Imagina... – Ele sorria ainda mais – Foi a primeira vez que você me abraçou, isso é no mínimo... emocionante! – Completou teatralmente. A menina olhou pros lados, ainda mais sem graça. 
- E você, como foi? – Ela tentou disfarçar. 
- Até que fui bem... Te ajudar com as matérias acabou por me ajudar também, eu nunca teria estudado tanto por conta própria. 
- Ah, que bom! Eu estou realmente contente... 
- Você não sabe o quanto isso me deixa feliz, Luinha... E orgulhoso – Ele fingiu se “achar” por isso. Em seguida acrescentou – E agora eu posso cobrar o nosso passeio... 
- Ah, é... –  Lua  se lembrou do fato e sua expressão mudou. Arthur disse rapidamente: 
- Olha, se você não quiser ir não tem problema, ok? Mas eu adoraria se você fosse... É importante pra mim e acredito que será bom pra ti também. 
Era possível resistir a carinha fofa que Arthur Aguiar fazia? Não. 
- Tudo bem... Eu saio com você esse final de semana... – Ela se entregou, apesar de não ter a certeza de se deveria – Você passa em casa ou nos encontramos em algum lugar? 
- Eu passo na tua casa... No sábado, às três horas, pode ser? – Ele sorriu contidamente. 

- Que filme você quer ver? – Arthur perguntou. Estavam parados em frente ao cinema do shopping depois de tomarem sorvete e darem uma volta pelo mesmo. Lua  olhava os cartazes, com a mão apoiando o rosto, pensativa. 
- Não tem nenhum filme de comédia... Eu queria alguma coisa alegre... 
- Olha, tem esse de terror... – Ele apontou e a garota fez cara de nojo – O que foi? Eu gosto... 
- Eu odeio. 
- Não tenha medo, eu te protejo – Arthur sorriu. 
- Não. 
- Ok, é isso ou aquele que parece ser bem dramático... 
- Por que não pode ser o de romance? – Ela fez bico. 
- Porque eu não vou ver filme de romance, ué... 
- Por favor... –  Lua  pediu fazendo a melhor carinha de súplica que conseguiu. 
- Ah, entendi tudo – Arthur fez cara de safado e a menina o olhou desconfiada – Filme de romance, comigo... É uma indireta, saquei! 
- Cala a boca, Aguiar! – Ela lhe deu um tapa no braço e ele caiu na gargalhada – Tudo bem, vamos ver o de terror, então! 
- Não, agora eu quero ver o de romance... 
- E eu o de terror. 
- O filme já vai começar, criatura – Ele sacudiu-a pelos ombros, mas com carinho – Decide! 
- Ok, romance! 
- Romance – Ele repetiu, suspirando e  Lua  sorriu. Os dois seguiram comprar os ingressos e entraram na sala. 

- Eu queria que esse momento pudesse durar pra sempre...” 
Ela saiu correndo, aos tropeços, depois de ouvir aquelas palavras. 

Luinha, o que houve? – Arthur apareceu em seguida, se sentando ao seu lado. Fez menção de colocar as mãos sobre os ombros dela, tentando acalmá-la. Lua , no entanto, se desviou, sentando-se um pouco mais longe e respondendo simplesmente: 
- Nada. 
- Você saiu correndo e chorando da sala de cinema no meio do filme, como não houve nada? 
- Só saí correndo, não chorei! Exagerado... – Ela olhou para o outro lado – Só não estava gostando do filme. 
- Aham – Ele suspirou – Normal sair correndo quando não se está gostando do filme, ok... 
- Aquela cena me lembrou algo que eu não gostaria de ter lembrado, pronto –  Lua  o encarou por alguns segundos, mas não conseguiu manter o olhar – Já disseram que você é muito intrometido? 
- Já disseram que você é muito misteriosa? – Arthur fingiu surpresa, depois riu – Você nunca diz nada além do que eu já saiba, ou já tenha percebido... –  Lua  torceu o nariz e ele acrescentou – Eu não vou perguntar mais nada... Mas se um dia você precisar de alguém pra conversar, eu estarei aqui, ta? 
Ela ficou sem jeito, sem saber o que responder. Encarou os pés. 
- Desculpa... Eu só... Passei por um momento muito difícil e não sei se estou preparada pra falar sobre isso ainda, entende? – Ela riu sozinha, enquanto uma lágrima escorria – E não se preocupe, quando, e se eu falar disso com alguém, provavelmente será com você... Porque caramba, você já me fez dizer muito mais do que pro resto do mundo junto, sério... 
- Eu tenho um dom – Ele brincou enquanto enxugava a lágrima no rosto dela – Quer ir embora? – Ela apenas assentiu. Ao chegarem à casa da garota, foram novamente recebidos por sua mãe. Ela abraçou a filha enquanto Luinha fazia cara de desinteresse, depois se dirigiu à Arthur. 
- Obrigada por tudo, garotinho. A  Lua  sorriu mais esses dias com você do que os últimos meses inteiros... 
- MÃE! –  Lua  retrucou, corando. Não argumentou mais nada, porém, após ver o olhar sincero dela. 
- Fico feliz em saber disso... – Arthur respondeu meio enrolado, sem olhar diretamente pra nenhuma delas – Sempre as ordens – Completou brincando e fazendo uma reverência exagerada, em seguida se despedindo. 

- Eu queria que esse momento pudesse durar pra sempre...
- Esse momento não pode durar pra sempre, mas podemos pra sempre ter momentos como esse – Ele sorriu.
- Hm... É uma possibilidade... – Ela sorriu também e os dois se beijaram.
Em seguida, gritos.
Lágrimas.
Sangue.
” 

Lua  acordou assustada. Esperou a respiração se normalizar e entender o que acontecera. 
Havia voltado a sonhar com aquilo. Desde que se aproximara de Arthur não havia mais tido pesadelos, o que era estranho. Mas agora eles estavam de volta. Deitou-se na cama novamente, acreditando que era apenas efeito do filme que assistira. Mas não conseguiu dormir outra vez. 

Arthur e  Lua  se encontraram em frente à escola na manhã de segunda-feira. Não tiveram muito tempo a sós, pois logo foram abordados por dois garotos. 
- Bom dia, Aguiar... E... Bom dia, menina – Um deles cumprimentou. 
- Oi, meninos – Ela retribuiu. 
Arthur, a gente precisa falar contigo... 
- Então diga. 
- Hm, é sobre a banda... – Ele respondeu receoso, olhando discretamente pra  Lua  - Precisamos resolver o que será dela... 
- Ah, claro... – Arthur interrompeu rapidamente, olhando sugestivamente pra os garotos – Luinha, nos dá um minutinho? A gente se encontra na aula. 
- Ok... – Ela respondeu, suspirando. Os meninos já estavam longe dali. 
- Eu pedi pra vocês tomarem cuidado com o que dizem na frente dela, né? – Arthur encarou os amigos, irritado.
- Não dissemos nada demais, relaxa... E de qualquer forma você que mandou a gente falar... 
- Eu não sabia do que se tratava, né, Rodrigo? Mas enfim, o que vocês queriam falar? 
Arthur... Até quando você pretende esconder a verdade dela? 
- Até quando for possível, Micael. Ela não precisa saber, não agora. 
- Tem certeza? Você está cada dia mais próximo dela, a  Lua  não é idiota e vai acabar descobrindo. Não é melhor você contar do que ela perceber ou ficar sabendo por terceiros? 
- Eu não estou preparado pra isso... – Arthur olhou pro chão. Concordava com aquelas palavras, mas na prática não era tão fácil – E acredito que nem ela. 
- Você que sabe... 
- Então... O que vocês queriam falar? – Ele repetiu. 
- A banda. Foi tudo muito complicado e ainda é, mas... A gente precisa decidir o futuro dela. 
- Eu sou o único que acha que... não existe futuro pra McFLY? – Arthur sentiu o coração se apertar ao dizer aquilo.

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