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sábado, 18 de agosto de 2012

[FIC] Mentiras e Segredos 17º e 18º Capitulo


Pensamentos e Palavras!!!! 

(Arthur)

Não dormi nada nessa noite. Tinha ficado mais uma vez ás voltas pela casa, a pensar em tudo o que a Sophia me tinha contado...a juntar peças de um puzzle que até ontem, eu nem sabia que existia.

E a meio da noite tinha desistido de lutar comigo próprio e tinha finalmente pesquisado o nome da Lua no computador, com uma mistura de curiosidade e medo. Aleatoriamente, abri alguns documentos, algumas noticias...e comecei a ler. Fechei o que tinha aberto antes de conseguir ver sequer metade deles. E voltei a sentir no peito aquele aperto de arrependimento.

E agora estava ali, de volta ao estúdio, não muito pronto para gravar. E, pior que isso, sem saber como encarar a Lua.

Cruzei-me com a Sophia no caminho até á porta do estúdio. Ela parou para me olhar de cima a baixo.

“Bom ar. Dá para ver que tiveste uma noite de sono excelente.”

Não era culpa dela, mas estava cansado, irritado, e ainda muito muito confuso. Limitei-me a olha-la com irritação.

“Já percebi”, disse ela levantando a mão em sinal de paz, “Nada de piadinhas pela manhã!”

Nao resisti a perguntar.

“Conseguiste falar com a Lua ontem?”

Ela avaliou-me por uns segundos.

“Consegui.”

Esperei um pouco, mas ela não adiantou mais nada. 

Hesitei, antes de lhe perguntar uma das muitas coisas que me tinham ocorrido durante a noite.

Virei-me finalmente para ela, encarando-a.

“Eu li algumas das noticias sobre ela ontem...”, parei, esforçando-me por controlar as imagens que me vinham á cabeça, “Não li muitas...só abri algumas ao acaso... E fiquei a pensar...”

A pausa era porque eu não sabia exactamente como expôr a minha dúvida. Mas ela limitou-se a olhar-me, esperando que eu continuasse.

“Fiquei a pensar como é que tantas revistas, algumas com pessoas que eu conhecia e considerava inteligentes a dirigi-las, aceitaram publicar tanto lixo e tantas histórias que dificilmente seriam verdadeiras...algumas conseguiam ser credíveis, é verdade...”, parei de novo para a olhar, “mas outras eram claramente delírio. Qual a explicação para isso? Uma epidemia de má-vontade contra a Lua Blanco?...”

Ela avaliou-me novamente.

“A explicação eu disse-ta ontem. Havia alguém por detrás de tudo isso. As noticias saíam, não importava o esforço que fazíamos para o impedir.”, ela parou um pouco abanando a cabeça, “E os timmings eram simplesmente demasiado perfeitos...quando uma estava a cair no esquecimento, surgia uma nova, de um assunto completamente diferente...quando parecia que tinha acabo, eis que no mês seguinte sai mais uma, numa revista diferente, que faz lembrar da anterior... Demasiado calculado, demasiado bem articulado para ser apenas coincidência.”

Concordei com um aceno de cabeça. Eu tinha pensado o mesmo.
“A questão, Sophia...é QUEM estava por detrás de tudo isso?”

Ela cruzou os braços e manteve o olhar em mim. O que ela disse não me surpreendeu. Já tinha concluído sozinho qual a linha de pensamento mais óbvia, mas nem por isso doeu menos ouvi-lo.

“Durante estes anos todos, sempre achamos que eras tu.”

Percebi algo no tom de voz dela, como uma nota dissonante que me levou a perguntar.

“E agora?”

Ela demorou a responder. E eu sustive a respiração enquanto esperava.

“Agora começo a ter as minhas dúvidas.”, não mencionou se a Lua tinha as mesmas dúvidas que ela...e eu não perguntei; o tom dela era mais frio quando continuou “Mas não te iludas, Arthur... se eu descubro uma prova, por mínima que seja, de que tiveste mesmo alguma coisa a ver com aquilo...faço-te pagar. EU asseguro-me PESSOALMENTE de que pagues...e não me importa o preço disso. Percebeste?”

Ela não tinha chegado a elevar a voz, mas eu percebi o quanto ela falava a sério. E ocorreu-me, pela primeira vez, que se ela tinha ficado ao lado da Lua...provavelmente também ela tinha tinha sido apanhada no meio da confusão.

Acenei.

Antes que eu conseguisse acrescentar o que quer que fosse, a Lua passou por nós em direcção á porta do estúdio, de óculos escuros. Não olhou para nós nem fez menção de parar.

Tentei dirigir-me a ela, mas senti alguém agarrar-me no braço, impedindo-me de avançar.

“Deixa-a. Pensa que, provavelmente, se a tua noite foi dificil, a dela foi pior... Dá-lhe tempo...e espaço. Estão aqui hoje para trabalhar...para escândalo já chegou ontem.”

Olhei para a Sophia. Ela tinha razão.

Enquanto via a Lua desaparecer atrás da porta para o interior do edificio, só pensei em quanto tempo e espaço lhe conseguiria dar antes de eu próprio explodir.
(Lua)

Ainda deitada, olhei para o despertador e pensei que ninguém merecia...acordar cedo no único dia da semana em que não tinha que ir gravar...

Mudei de posição, encolhendo-me um pouco mais na cama. Mesmo que não conseguisse dormir, pelo menos podia aproveitar para preguiçar um pouco mais na cama...sabia tão bem...

Sentia-me tão bem...

Abri os olhos, surpreendida com a constatação, e parei para pensar um pouco nisso. Era verdade. Sentia-me realmente bem. Na verdade...não me lembrava da última vez que me tinha sentido tão...leve!

Forcei-me a analisar-me um pouco a mim própria, como se procurasse um sinal qualquer de que me estava a tentar enganar. Mas não... a verdade é que estava completamente calma!

“Ora”, pensei para mim com um sorriso, “deixa-te de análises e aproveita mas é o sentimento!”

Voltei a fechar os olhos e enroscar-me um pouco mais na cama...mas a imagem do Arthur veio-me á cabeça. Contra o costume...deixei-a fluir livremente...limitando-me a aproveitá-la. As memórias do passado e desta última semana misturavam-se, em imagens apenas vagas que não me forcei a aprofundar. Ele a sorrir, ele distraído a falar com o Mica, ele a actuar, palhaçadas que fazíamos quando estávamos os 6 juntos em Rebelde, ele a cozinhar...o meu sorriso abriu-se mais...ele tinha optimas intenções, mas era péssimo cozinheiro!...

Deixei-me estar ali no conforto da cama, limitando-me a deixar rolar as imagens na minha cabeça. Esquecendo que não deveria estar a pensar no Arthur, esquecendo tudo...e acabando por adormecer novamente, embalada pelo calor no coração que elas me provocavam.

A campainha da porta fez-me acordar sobressaltada. Por momentos, fiquei confusa sobre de onde tinha vindo o barulho, mas logo ela tocou outra vez.
Virei-me de barriga para cima na cama e suspirei, levantando-me logo a seguir.

Abri a porta ainda zonza pelo sono. E talvez tivesse sido isso que me impediu de ficar surpreendida por o ver ali.

“Entra.”, disse simplesmente enquanto me apoiava na porta, ainda preguiçosa demais pelo sono para fazer algo mais que isso.

“Bom dia...”, o tom era algo entre o surpreendido e o inseguro...com apenas um traço de diversão na voz.

“Dia para ti também”, respondi dirigindo-me a cozinha. Já me sentia mais acordada, mas não tinha intenção de lho mostrar.

Ele hesitou, mas acabou por me seguir, encostando-se na ombreira da porta.

Em frente á maquina do café, enquanto esperava que ela aquecesse, eu pensava para comigo mesma que sabia que ele iria aparecer mais tarde ou mais cedo. Tínhamo-nos comportado como simples colegas durante toda a semana...mas ambos percebíamos que estar perto um do outro era como pisar ovos...era medir com cuidado cada palavra, cada gesto...fazer os possiveis para não pisar a bomba que sabíamos que continuava ali.

“Como é que em algum momento eu pude achar que trabalharmos juntos ia resultar?”, pensei enquanto o café saía.

Ele continuava encostado descontraidamente, e não tinha dito uma palavra.

Aspirei o aroma do café e dei o primeiro gole...e ele decidiu finalmente falar.

“Já posso falar sem correr o risco de ser assassinado?”

Escondi o sorriso com a chávena e bebi mais um pouco. O tom dele era divertido, e eu sabia exactamente porquê. Na época em que estávamos juntos, eu acordava sempre de péssimo humor. Só me tornava relativamente humana, como ele dizia a brincar, depois da primeira chávena de café.
Virei-me para ele, encostando-me á bancada atrás de mim.

“Algum motivo para resolveres tocar á minha campainha de madrugada?”, perguntei, entrando na onda do leve humor que tínhamos conseguido.

Ele fingiu-se surpreendido e olhou para o relógio, virando-se depois para mim com um sorriso.

O meu coração deu um tombo e eu bebi mais um pouco de café na esperança de disfarçar o efeito daquele sorriso em mim.
“Madrugada em que fuso horário?”

Encolhi os ombros e não resisti a sorrir também.

“Em algum deles, suponho!... Honestamente, nem sei que horas são. Arrancaste-me da cama...não me podes culpar por tentar que me deixasses voltar para lá!”, o meu cérebro demorou menos de 2 segundos a concluir que falar nele e em cama na mesma frase não tinha sido muito inteligente.

Ele deve ter pensado exactamente no mesmo que eu, porque o brilho nos olhos dele mudou.

Certo...aquela era uma das bombas que tínhamos passado a semana a tentar que não explodisse. Tinha ficado mais do que claro durante as gravações que, independentemente dos assuntos que tivéssemos pendentes (e se tínhamos...), o desejo continuava lá. Tocar-mo-nos ainda provocava aquele calor, ainda tinha aquela intensidade...

Decidi tentar cortar o assunto e pousei a chávena na bancada.

“Bom...se vieste aqui, suponho que não foi apenas para me ver a beber café de pijama e trocar piadas”, pensei que realmente, tendo em conta a quantidade de vezes que tínhamos estado precisamente assim, eu estava a acertar em todas hoje! 
“Espera na sala que eu não demoro.”, acabei por dizer para não me meter em mais sarilhos com o que dizia.

“Não tens medo que roube as pratas?”, perguntou-me com aquele maldito sorriso enquanto se chegava para o lado para eu passar.

Não me virei para trás, numa tentativa de não mostrar que só o passar perto dele me tinha afectado.

“Não há pratas para roubar...além disso consigo descobrir onde moras!”, atirei.

Ouvi-o rir antes de fechar a porta, e quando me deixei cair pesadamente na cama, a única coisa que consegui pensar foi “Estás tramada, Lua!...”
(Arthur)

Fiquei a vê-la seguir em direcção ao quarto com um sorriso tonto nos lábios. Estar com a Lua num ambiente tão descontraído, quase como se os 5 anos não tivessem passado, deixava-me a cabeça nas nuvens. Não consegui evitar que o sorriso se abrisse mais.

“Bolas, Lua...as saudades que eu tinha disto...”, pensei olhando na direcção da porta fechada.

Tinha que confessar que tive pena que ela se apercebesse finalmente do que tinha vestido... Conhecendo-a, não foi dificil perceber o momento exacto em que ela se apercebeu disso. Sabia que ela não costumava ligar minimamente ao que vestia, e que desde que estivesse convenientemente tapada, considerava estar perfeitamente decente.

Mas ela tinha razão...estarmos os dois sozinhos depois de uma semana a rodear tantos assuntos já era uma bomba-relógio por si só. Não precisávamos que eu me distraísse ainda mais a pensar em, de facto, deixá-la voltar para a cama...de preferência comigo junto!

“Auto-controlo tem limites!”, pensei.

Fui em direcção á sala, enquanto pensava no que ia dizer à Lua quando ela voltasse...vestida.

“Pára aí mesmo, Arthur!”, sacudi a cabeça numa tentativa de afastar a imagem da Lua de pijama...ou sem pijama..., “Raios! Foca-te, Arthur! Têm muita coisa para falar... E já estás cheio de sorte que ela te tenha deixado entrar em casa...não abuses da sorte!”

Forcei-me a mudar o rumo dos pensamentos. E ocorreu-me que se a Lua achava que eu tinha chegado cedo a casa dela...devia ter visto a cara da Luisa quando me abriu a porta!
Tinha demorado apenas dois dias a localizá-la novamente, mas ela estava em viagem. Hoje, finalmente, tinha conseguido falar com ela. Tinha algumas perguntas a fazer...e havia alguma coisa que me dizia que ela teria grande parte das respostas.

O choque na cara dela ao ver-me tinha sido genuíno. Supus que ela não soubesse que eu tinha voltado ao Brasil.
“Optimo”, pensei, “de surpresa é sempre melhor...”
“Olá Luisa... Tudo bem?”
Ela olhou-me, ainda demasiado surpreendida para falar. Demorou uns segundos a perceber que estava simplesmente parada a olhar para mim de boca aberta.
“A...Arthur! Que surpresa!”, abriu mais a porta, convidando-me a entrar com um gesto, “Entra entra! Desculpa...fiquei tão surpreendida por te ver...não sabia que tinhas voltado!”
Estava a balbuciar, e eu franzi a testa. Nunca tinha visto a Luisa a balbuciar!
“Caramba...”, não consegui evitar pensar, “as pessoas sofreram mesmo mudanças enquanto estive fora!...”
“Desculpa o horário...sei que é um pouco cedo...”, tentei soar arrependido...e pensei que era nessas alturas que dava jeito ser actor
.
“Não te preocupes!”, ela abriu um sorriso resplandecente. Já me parecia mais a Luisa que eu conhecia... “Apesar de nos termos afastado um pouco nos últimos anos sabes que continuas a poder contar comigo a qualquer hora!”
Afastado era, decididamente, eufemismo. Mal tinha concluído as negociações com a emissora portuguesa tinha acabado o contrato com a agência da Luisa e mudado para uma acessora portuguesa. A Luisa foi mais uma das muitas pessoas de quem não atendi os telefonemas. Não falávamos há 5 anos...e ela dizia que nos tínhamos...afastado um pouco. Controlei-me. Se o que eu suspeitava fosse verdade...ia precisar de muito auto-controle para a conversa que estava a planear!
“Claro! Agradeço-te por isso!”, sorri-lhe.
“Mas o que te trás por cá outra vez afinal?”, perguntou-me ajeitando-se no sofá.
“Ao Brasil? Ah...vou participar de uma nova novela...”, comentei distraidamente. Não ia, de forma alguma, informá-la de que iria contracenar com a Lua.
Ela pareceu ligeiramente avaliada, mas disfarçou rapidamente.
“Que bom, querido! Vai ser bom ver-te de novo na televisão brasileira!... Vi algumas das tuas participações portuguesas...mas nada se compara ao nosso Brasil, não é mesmo?”
“Claro, claro!”, comentei, enquanto a fixava com mais atenção.
Aqueles 5 anos tinham-lhe feito mal. Não é que estivesse envelhecida ou feia...a Luisa sempre tinha sido uma mulher bonita. Era o olhar, a expressão da boca...eram mais frios, mais...fingidos.
“Ou se calhar eu é que nunca reparei nisso antes”, pensei enquanto a ouvia tagarelar mais um pouco.
“Então e...voltaste sozinho?”
Olhei para ela, como se estivesse indeciso.
“Se disser que sim, acho que o Toy fica chateado...”
Controlei-me para não rir da expressão confusa dela.
“Toy?...”
“Sim...fui adoptado por um gato. Ele não achou boa ideia continuar em Portugal sem mim”, respondi com ar sério.
Ela olhou para mim, a avaliar se eu estava a falar a sério.
“Céus!...”, pensei enquanto engolia o riso, “A Luisa sempre teve uma falta de humor de dar dó!”
Resolvi não a torturar com isso...afinal, eu tinha coisas muito mais importantes para falar com ela hoje.
“Estava a brincar, Luisa. Eu é que não ia deixar o bichinho sozinho lá, não é?”, forcei-me a sorrir
“Ah! Claro!... Eu percebi, é obvio!”, riu-se aliviada.
“Claro!”, e o meu sorriso foi só um bocadinho de nada irónico.
Decidi que estava farto de conversa...e que ela já estava suficientemente segura de si mesma para eu poder apanhá-la de surpresa.
Peguei no envelope com as coisas que ela me tinha entregue há 5 anos na minha casa e passei-lho para as mãos.
Ela não o reconheceu e olhou para mim, sem compreender. Apontei para o envelope, num gesto para que ela o abrisse.
Ela fê-lo, e percebeu imediatamente o que era. Fechou-o de novo, sem retirar nenhuma das fotos e olhou para mim.
“Sabes o que é isso?”, perguntei
“Claro que sei, Arthur! Fui eu quem to entregou, lembras-te?”, perguntou, e eu notei-lhe o nervosismo encoberto pela irritação.
“Só não percebo porque me estás a entregar isto agora! Pensei que depois deste tempo todo já a tivesses esquecido!”, a voz continuava irritada.
“Esquecer quem? A Lua?”, fiz questão de dizer o nome dela, e percebi que os olhos dela se cerraram um pouco mais quando o disse.
“Esqueci...claro que esqueci a Lua! Mas não me esqueci da humilhação que passei por causa dela. Soube que algumas dessas fotos chegaram ás revistas...”, fiz uma pausa estudada, “Na altura só queria afastar-me de tudo, mas agora...agora já não sinto nada por ela.”
Parei de novo, e vi que tinha captado a atenção dela.
“E o que é que isso tem a ver comigo...e com estas fotos?”, disse levantando o envelope.
“Tudo”, parei e olhei-a bem nos olhos, “Ela fez de mim parvo em público...e agora eu quero fazer o mesmo com ela!”


“Ei!”, ouvi um estalar de dedos e sobressaltei-me.

A Lua estava a minha frente, infelizmente já vestida.

“Depois de me acordares, decidiste dormir no meu sofá?”, perguntou sentando-se.

Eu ri-me. Pelo menos ela continuava de bom humor.

“Não...estava só a pensar em como te ia contar o encontro que tive hoje cedo...”
(Lua)

“Que encontro?”, perguntei confusa

“Eu estive na casa da Luisa”

Olhei para ele, continuando sem entender. De acordo...tinha lógica que ele tivesse ido visitá-la...afinal, ela tinha sido acessora dele durante anos...

Olhei para ele, mas ele estava simplesmente em silêncio.

“E...”, disse eu, incentivando-o a continuar

O que quer que ele me fosse dizer...não parecia que fosse fácil. E, sinceramente, eu estava com muito pouca vontade de estragar o meu dia...

“Olha, Arthur, seja o que for...eu acho que não quero nem preciso de saber”, não o deixei interromper-me, “Eu e a Luisa nunca nos demos particularmente bem, por isso não estou a ver o que é que eu possa ter de saber relativamente a ela... E para te falar honestamente, estou demasiado bem-disposta para falar da Luisa! Traz-me más recordações.”

Ele encostou-se no sofá numa atitude descontraída.

“Bem-disposta, é? Quando me abriste a porta não parecia...”

Eu conhecia aquele olhar....aquele brilho não era apenas diversão. Controlei-me.

“Não sejas idiota, Lua!”, pensei, “Deixares-te ir na onda não te vai levar a lado nenhum...”

“Se não estivesse bem-disposta não tinhas passado da porta”, acabei por lhe responder, fingindo uma indiferença que estava longe de sentir.

Ele riu-se e inclinou-se para a frente , aproximando-se.

“Eu conheço-te, Lua.”, sorriu

O meu coração bateu um pouco mais rápido, mas felizmente ele voltou a encostar-se no sofá.

“Mas...”, e o tom dele era sério agora, “temos muita coisa para falar...fingirmos que não só adia o momento...e pode trazer ainda mais mal-entendidos!...”

“E pronto”, pensei, “O passado voltou...”
(Arthur)

Por um momento, senti-me tentado a voltar atrás. Desde que eu tinha voltado, era a primeira vez que estávamos assim relaxados e à-vontade um com o outro. Era a primeira vez que a Lua aceitava estar no mesmo espaço que eu com as defesas para baixo. E eu não queria perder isso.

Mas forcei-me a continuar a conversa. Se não falássemos agora, o risco de que as coisas viessem a piorar era grande...eu precisava da ajuda dela no plano que tinha traçado. E além disso...havia pelo menos uma coisa que eu tinha mesmo de lhe dizer....com 5 anos de atraso.

Sorri-lhe, tentando reconfortá-la. Ela tinha posto os pés em cima do sofá e abraçava-se aos joelhos. Tinha uma expressão tão...triste...

Apetecia-me esticar o braço e tocar-lhe, ou sentar-me ao lado dela e abraçá-la. Mas não tinha esse direito.

“Lua...sabes que temos de falar...”

Ela acenou com a cabeça e suspirou.

“Sei, Arthur. Só que remexer no que passou não adianta de nada...cada um de nós tem muita coisa contra o outro...e eu não acho...”

Tentei interrompê-la, mas ela não pareceu dar-se conta, por isso levantei-me para me sentar ao pé dela. O cuidado que fosse para o Inferno!

Ela calou-se e ficou a olhar para mim com os olhos muito abertos, num claro “O que é que pensas que estás a fazer?!”

Pousei uma mão no joelho dela, e o olhar dela seguiu a minha mão, depois voltou a olhar para mim.

“Arthur...lá porque te deixei entrar e até conseguimos ter um ambiente minimamente relaxado, não quer dizer...”

Apertei-lhe levemente o joelho e ela calou-se.

“Tem calma! Não vou fazer nada. Só mudei de lugar porque não te calavas...estou a tentar dizer-te uma data de coisas e tu não deixas!”, sabia que soava ligeiramente desesperado, mas estava mesmo!
“Mas...”, começou. Calou-se quando olhei significativamente para ela.

“Ok...acabou por dizer. É que eu acho que não quero ouvir o que tens para dizer”, olhou de novo para mim, que continuava a espera que ela me deixasse falar, “Mas fala!”

Pousou a cabeça sobre os joelhos, com ar de resignação.

Tive de me rir. A vontade de a abraçar era enorme, e eu tive de me controlar para não o fazer.

“Ai, Lua...és impossível! Como é que eu pude duvidar de ti? Ou melhor...como é que eu achei que havia mais alguém no mundo com paciência para te aturar, além de mim?!”
(Lua)

O meu cérebro parou. Ou o coração. Sei lá eu o que é que parou!!!

Só conseguia ficar a olhar para ele, com aquele sorriso enorme estampado na cara, e pensar que estava a ouvir coisas.

Afastei-me dele e levantei-me do sofá. Sacudi a cabeça, para me assegurar que estava bem acordada e olhei para ele outra vez, que continuava ali com aquele sorriso parvo.

“O que é que tu disseste?”, acabei por dizer...e depois ri-me, abanando a mão na direcção dele, “Não, espera! É que não imaginas o que eu ouvi...”

Ele levantou-se também, mas não me tocou.

“A não ser que estejas com problemas de audição, ouviste que eu nunca devia ter duvidado de ti...”

“Ok...”, pensei sentando-me de novo por medo que as minhas pernas deixassem de me segurar, “Estou a delirar!”

Olhei para ele, com ar completamente estupefacto.

“Estás a dizer-me que, finalmente, ao fim de 5 anos, acordaste num domingo de manhã e decidiste que afinal a tua ex-namorada não te tinha enganado com ninguém nem tinha ficado grávida e feito um aborto...e decidiste vir pessoalmente informá-la disso...”, se eu soava incrédula, era sem dúvida, porque me sentia assim!

“Não exactamente, mas estás perto.”

Olhei-o desconfiada.

“Quão perto?”

Ele limitou-se a rir.

“Não tenho a certeza se as fotos são falsas ou se simplesmente não és tu que estás nelas, mas concluí que, sejam o que forem, tu não me enganaste.”, franziu a testa, “Pelo menos não naquelas fotos.”

Bati-lhe. E depois belisquei-lhe o braço.

“Au!”, ele encolheu-se, “Porque é que fizeste isso?!”

“Porque és um idiota. E para confirmar se estou acordada!”
Ele olhou-me interrogativamente enquanto esfregava o braço.
“E não devias beliscar-te a ti própria para isso?!”

Limitei-me a encolher os ombros...

“Se me beliscasse a mim própria iria doer-me.”, respondi simplesmente.

Ele olhou para mim incrédulo, e depois desatou a rir-se ás gargalhadas.

Bati-lhe outra vez. E outra vez. E outra.

“Au! Lua! Au!”, segurou-me o braço, “Queres parar com isso?!?!”

Eu não sabia se estava mais furiosa com ele por ter duvidado de mim ou aliviada por finalmente ter concluído que nunca o deveria ter feito. Apetecia-me bater-lhe. Muito! E sentia lágrimas nos olhos...lágrimas de alívio!...

Mas ainda tínhamos coisas a esclarecer.

Soltei-me e sentei-me mais afastada dele no sofá.

“Então finalmente concluíste que eu era a inocente na história...”, disse pensativa...

Olhei para ele outra vez, “E suponho que agora seja a parte em que me pedes desculpa por afinal te teres vingado da pessoa errada, eu aceito, e fica tudo bem...”
(Arthur)

“De acordo”, pensei, “Não imaginaste mesmo que ia ser assim tão facil, pois não?”

Olhei para ela, que tinha nos olhos uma mistura de sentimentos que eu não conseguia decifrar completamente. Percebi que uma grande parte era alívio...mas a mágoa também ainda lá estava. Senti um aperto no coração.

“Não, Lua, não é exactamente isso.”, falei devagar.

Não sabia até que ponto ela ia confiar em mim, mas eu não tinha outra forma de lhe provar que afinal, nesta história toda, nenhum de nós era culpado de nada a não ser de não acreditarmos um no outro.

“Eu não tenho provas de nada, Lua. Nem de que não mandei publicar aquelas malditas fotos ou estive por trás de todo o escândalo que se seguiu, nem de que tu não me enganaste com o André. Mas, se tu me ajudares, talvez consigamos tê-las...no que se refere ao escândalo, pelo menos”, hesitei, mas a expressão dela não demonstrava nenhuma reacção ao que eu tinha dito.

“Antes de mais nada...quem me deu essas fotos e esse falso teste de gravidez há 5 anos foi a Luisa.”, respirei fundo antes de continuar, “Disse-me que um fotógrafo tinha vindo até ela com as fotos...e que tinha dito que lhas vendia a ela, se estivessemos interessados, ou, caso contrário, as venderia ás revistas.”

A Lua continuava sem dizer nada, só fez um aceno quase imperceptivel com a cabeça, dizendo-me sem palavras para eu continuar.

“Na altura pareceu-me lógico. Na verdade...tens de admitir que é bastante credível!”, e talvez a minha voz tivesse soado ligeiramente mais irritada do que deveria para quem estava a tentar pedir desculpas, porque ela arqueou ligeiramente a sobrancelha.

Resmunguei comigo próprio antes de continuar.
“Bom...podes não acreditar, mas eu na altura pus em questão se as fotos não seriam uma montagem. A Luisa garantiu-me que, infelizmente, não. Ela tinha-as mandado analisar. Chama-me estúpido, mas acreditei. Não tinha motivos para duvidar dela. E ela parecia genuinamente abalada com a situação toda...”

A Lua levantou ligeiramente a cabeça e eu virei-me para ela.

“As fotos não são falsas”, disse-me simplesmente.

Percebi pela expressão dela que não tinha certeza da minha reacção áquela informação.

“Então não és tu que estás nelas.”

A surpresa estampou-se na cara dela. Fez-me uma quase vénia fingida.

“Muito bem...acertou á primeira, Sr. Arthur Aguiar. Apesar de com 5 anos de atraso, claro!”, disse irónica mas, ainda assim, com um meio sorriso.

“Ironias á parte, Lua! A verdade é que posso ter sido precipitado há 5 anos...mas as provas estavam ali..tudo confirmado, tudo credível...”, olhei para ela, esforçando-me por a fazer entender, “Deixar-te não foi simplesmente um capricho de menino mimado que perdeu o brinquedo...deixar-te, tendo em conta que por muito que tentasse arranjar uma explicação para aquelas fotos além da óbvia, não conseguia, era-me essencial naquele momento. Consegues entender isso?”

Foi a vez dela suspirar, enquanto acenava levemente com a cabeça.

“Essa nunca foi a parte dificil de entender, Arthur. Eu percebi as tuas dúvidas, as coisas que me disseste. Até percebi a tua partida.”

Abanou a cabeça devagar, com um meio sorriso, “Pouca gente sabe disso, mas eu ia ter contigo a Portugal para tentar resolver as coisas...”

Fiquei surpreendido.
“E então mudaste de ideias... Porquê? Porque as fotos saíram?”, perguntei, sem entender.

“Não, Arthur. Quando decidi ir, o escândalo já estava lançado. Eu ia explicar-te que o André tinha acabado por confessar o grande amigo que tinha sido ao participar de várias sessões fotográficas com uma falsa Lua...tudo por amor a mim, claro! Para me ter de volta, segundo disse.”

Cada vez me sentia mais confuso.

“Então o que aconteceu?”

Ela sorriu, com o sorriso mais triste do mundo...

“Então...dois dias antes da minha partida, a Luisa trouxe-me um monte de e-mails e recibos teus...em que se combinava e comprovava a venda de diversas fotos e informações sobre mim.”
(Lua)

Deixei o Arthur digerir a informação que eu tinha acabado de lhe dar. Ele parecia em choque.

“Então foi por isso que pensaste que tinha sido eu?... Não foi simplesmente por associares a minha partida á saída das fotos?...”, ele falava devagar, como se estivesse a pensar em cada palavra isoladamente.

Limitei-me a acenar com a cabeça.
Ele olhou para mim, e a dúvida sobre o que é que eu estaria a pensar estava-lhe estampada nos olhos.

“Lua...eu não fiz nada...eu não sabia...”, aproximei-me dele e pus-lhe um dedo nos lábios, enquanto sorria.

“Eu sei. Já percebi que foi a Luisa quem armou tudo.”

Sentia-me nas nuvens. Havia uma pequena parte de mim que me lembrava que acreditar assim, do nada e sem provas, era um risco...mas naquele momento, com o Arthur ali tão perto e finalmente com uma explicação para tudo o que se tinha passado, sentia que era um risco que eu estava disposta a correr.
(Arthur)

Os olhos da Lua brilhavam, enquanto ela se aproximava um pouco mais. Parou quase colada a mim, encarando-me com um sorriso.

“Lua...”, comecei, enquanto tentava não perder o foco na conversa.

Ela inclinou levemente a cabeça, sorrindo.

“Diz, Arthur...”, e o tom dela era uma mistura de provocação e diversão.

Com ela tão perto, não resisti a acariciar-lhe o cabelo, tentando em vão colocar um dos cachos rebeldes atrás da orelha dela.
“Ainda temos coisas para esclarecer... precisamos conversar...”, acabei por dizer olhando para ela esforçando-me por me controlar.

“Sei...”, disse ela colando-se a mim e enlaçando-me pelo pescoço com uma expressão aparentemente desinteressada, “mas sabes...desde que começaste a provocar-me há pouco na cozinha que há uma coisa que me apetece imenso fazer...”

Passou uma mão pelo meu peito, como se estivesse a alisar uma ruga inexistente na camisa.

Eu estava perdido e sabia-o. Levei uma mão ao pescoço dela e desci-a pelos longos cachos, sentindo a suavidade por entre os dedos.

“Ai sim?”, disse meio rouco e rendendo-me ao inevitável, “Não estou a ver o que seja...”
Ela segurou-me pela gola da camisa, dando um pequeno puxão, como que a repreender-me, e eu sorri, com as mãos de cada lado da cintura dela.

“Não vais dizer-me o que é?”, perguntei

Ela fez-se de desentendida e fez menção de se afastar com aparente desinteresse.

“Acho que não...não era nada importante mesmo...”

“Pois eu acho que era”, disse puxando-a pela cintura e fazendo-a embater no meu peito, “Acho que era uma coisa muito importante...”

Quando finalmente rocei os lábios nos dela, lentamente, apreciando a textura suave enquanto a incentivava a abri-los para mim, senti-a sorrir.

“Não tínhamos coisas para falar?”, perguntou maliciosa enquanto me mordiscava ligeiramente o lábio.

Puxei-a mais para mim, com um braço enlaçando-a pela cintura e o outro subindo pelas costas até a segurar pela nuca, sentindo-a deixar cair a cabeça contra a minha mão.

“Depois”, sussurei colando novamente os lábios aos dela.

O beijo foi leve e lento, uma doce viagem por aqueles lábios tão suaves e ainda familiares...

Foi a minha vez de a mordiscar levemente, beijando suavemente o lábio de seguida. Afastei a face da dela apenas o suficiente para a poder ver com clareza.

Ela abriu os olhos e eu mergulhei neles.

“És linda, sabias?”, murmurei mantendo-a firmemente colada a mim e acariciando-lhe a face com o dedo.

Ela sorriu e eu beijei-a de novo.
(Lua)

Eu sabia que não devia tê-lo provocado para me beijar. Ele tinha razão...ainda tínhamos muita coisa para falar. Mas a verdade é que me sentia tão feliz que não resisti. Quem resistiria?!

Por isso deixei-me levar...provando, acariciando, saboreando...

O corpo dele contra o meu, o toque suave e ao mesmo tempo possessivo da mão dele, que passeava pela minha face, percorrendo o caminho até á minha nuca e afastando o meu cabelo enquanto traçava um caminho imaginário de beijos desde a minha boca até á curva do meu pescoço...só para fazer tudo de novo, voltanto á minha boca.

Conseguia senti-lo a controlar-se para manter o beijo leve, mas eu queria mais. Naquele momento, eu não queria pensar, não queria ouvir...só queria senti-lo, perder-me nele...afogar naquele beijo 5 anos de mágoa e de saudades de me sentir assim.
Incitei-o a aprofundar o beijo, pondo-me em pontas de pés para que nos nossos corpos encaixassem melhor. Ele percorreu o meu corpo com as mãos, dos meus ombros á minha cintura, subindo mais uma vez.

“Tentas até um santo, Lua!...”, sussurou entre beijos contra os meus lábios, “E eu não sou nenhum santo...”

Colados aos dele, os meus lábios arquearam-se num sorriso.

O tom dele era rouco, perigoso...excitante. Eu sabia que não demoraria muito até ele mandar o controlo para o Inferno, e senti-me tentada a provocar mais um pouco...

Mas ele tinha razão...e era a minha vez de ser sensata.

Suavizei o beijo lentamente e rocei os lábios nos dele, ao de leve, dando uma última pequena dentada no lábio inferior dele antes de me afastar.

Ele deixou-me afastar, mas manteve as mãos nos meus ombros, olhando-me com os olhos ainda turvos de desejo.

Como se não resistisse, baixou-se para me depositar um beijinho leve nos lábios, antes de me soltar e dar um passo atrás.
(Arthur)

A facilidade com que a Lua me fazia perder a cabeça era quase assustadora.

Ali parada a olhar para mim, com os olhos brilhantes, a boca ligeiramente vermelha pelo beijo e o cabelo despenteado pelos meus dedos, era a prova viva da tentação...

Fazendo uso de uma formidável quantidade de auto-controlo que nem eu sabia que tinha, dei mais um passo atrás, afastando-me.

Ela riu-se.

“A fugir de mim?”, o tom dela era divertido, mas ainda ligeiramente rouco.

“Por agora...”, e nessas palavras ia a clara mensagem de que esperava que voltássemos ao ponto onde estávamos...sem assuntos pendentes pelo meio...

Pigarreei um pouco, esforçando-me por parar de pensar em colá-la novamente a mim e beijar aqueles lábios sorridentes...percorrer aquelas curvas com as mãos, enquanto lhe beijava levemente a curva do pescoço...

Sacudi a cabeça, numa tentativa de clarear as ideias.

Percebi pela gargalhada rouca dela que tinha percebido exactamente o rumo que os meus pensamentos levavam e olhei-a, esforçando-me por fazer um ar ameaçador.

“Não tem graça...”, resmunguei enquanto tentava parecer apenas chateado e não desesperado por a agarrar outra vez.

Olhei-a.

“Não estás a ajudar, sabias?”, eu sentia-me arder de desejo por ela, e aquele brilho nos olhos dela fazia promessas que eu estava ansioso por cobrar.
Ela riu-se novamente. Também ainda estava agitada, mas esforçou-se por fazer um ar inocente e de menina bem-comportada enquanto se sentava.

“Muito bem...sobre o que querias falar mais?”

Esforcei-me realmente por ordenar de novo as ideias, já que nos últimos minutos tinham sido todas completamente superadas pela sensação de prazer de ter a Lua de novo nos meus braços, tão rendida e apaixonada como antes.

“Pois...ahnnn”, ela ergueu a sobrancelha com ar divertido, mas manteve-se em silêncio, “Eu disse-te que tinha ido a casa da Luisa hoje cedo...”

Ela acenou.

“E suponho que foi quando percebeste que as fotos afinal tinham sido armação dela...”, disse ela, tentando ajudar-me a continuar.

Sentei-me também...no sofá em frente ao dela, para fugir á tentação.

“Na verdade...tinha percebido antes...mais exactamente, pouco depois da conversa com a Sophia...”

Ela olhou-me surpreendida.

“Então o que foste lá fazer? Tentar fazê-la confesar?...”

Eu sorri, malicioso, enquanto ela me olhava sem entender.

“Não...fui lá estender um isco...que se ela apanhar, nos vai dar as provas de que foi ela quem esteve por detrás de tudo o que publicaram sobre ti...”

Vi o brilho nos olhos da Lua...e, desta vez, não era de desejo.
(Lua)
Um plano para apanhar a Luisa...

Sinceramente, nunca tinha pensado que seria ela a estar por trás de todas as invençoes, de tudo o que aconteceu! Bem...sendo completamente sincera, não acredito que ela tivesse plantado todas as notícias....bastava-lhe atirar-me ás feras e ir acossando-as quando achasse que não estavam suficientemente ferozes... Acredito que muitas das noticias surgiram simplesmente pelo gosto que as pessoas têm ao escândalo...e porque na altura qualquer revista pagava por histórias sobre mim...fosse de que tipo fosse.

Mas o Arthur oferecia-me a oportunidade de, finalmente, provar que tinha sido tudo armação... eu poderia, ao fim de tanto tempo, fazê-la pagar por ter sido a culpada de tudo o que correu mal na minha vida nos últimos anos...

Não hesitei quando olhei para ele.

“Conta-me tudo”, e os meus olhos brilhavam, antecipando a vingança.
              
 
(Arthur)

E eu contei.

No fundo, o plano era bastante simples.

Tinha feito a Luisa acreditar que um dos meus objectivos ao voltar para o Brasil era vingar-me da humilhação a que a Lua me tinha exposto, ao ser traído publicamente. Para isso, precisaria da ajuda dela....para descobrir alguma coisa sobre a Lua que pudesse ser exposta, fosse o que fosse.

Fiz questão de contar á Luisa que tinha cortado relações com toda a gente excepto a família, quando fui para Portugal...e que não fazia ideia de nada do que se tinha passado no Brasil nos últimos anos.

“Deixa-me adivinhar”, disse a Lua, “Ela não mencionou que eu já tinha sido suficientemente humilhada...”

Abanei a cabeça.

“Não. Disse que depois das fotos tinham saído mais algumas notas sobre ti, mas nada de extraordinário.”

Ela cerrou os dentes.

“E então o teu plano consiste exactamente em quê?”, perguntou ainda confusa.

“Simples...eu pedi-lhe para descobrir alguma coisa...escândalosa sobre ti.”, eu sorri, “E nós vamos dar-lhe uma.”

“Não estou a perceber...”

“Lua...nós os dois vamos criar uma história falsa sobre ti e deixar que a Luisa a descubra...meramente por sorte dela, claro”, disse inclinando-me para a frente.

“Claro...”, disse a Lua segurando um sorriso, “Meramente por sorte...percebi. Mas e depois?”

“E depois seguimos o rasto dessa história. Com certeza ela vai utilizar as mesmas pessoas e vias de exposição da história.”, sorri, “Só que desta vez nós vamos estar imediatamente atrás dela...e conseguir as provas da tentativa de venda DESTA história em particular. Se o plano correr bem, é isso que conseguimos...se correr brilhantemente bem, conseguimos provas de venda de outras histórias também...”


A Lua ficou pensativa... 
“Percebo...mas o teu plano tem várias falhas, não achas? Nomeadamente, que história vamos inventar? E se ela conseguir realmente publicá-la? Nada nos garante que consigamos mesmo seguir o rasto do que ela vai fazer...”, pareceu angustiada, “E eu não quero mais escândalos, Arthur...não quero mesmo!”

Peguei-lhe nas mãos, apertando-as entre as minhas.

“Se não queres ir com isto para a frente eu arranjo uma forma de parar tudo, Lua...mas achei que ias gostar de ter provas...”, pela primeira vez desde que tinha pensado no plano, percebi que deveria ter falado com a Lua primeiro.

“Estúpido, Arthur! Muito estúpido! É claro que devias...é natural que ela esteja com medo!”, pensei para comigo.

O meu olhar devia ser suficientemente angustiado, porque a Lua sorriu e passou-me uma mão pela face, fazendo-me um carinho.

“Eu sei que só queres ajudar...mas pensaste pelo menos em alguma história?”

Hesitei. Eu tinha pensado. Mas aqui era, na minha opinião, o ponto mais fraco da minha história. Convencer a Lua a concordar em fingir...

Ela apertou-me a mão.

“Então?...Pensaste ou não pensaste?”

Respirei fundo.

“Eu pensei dizer que te tinhas casado secretamente há alguns anos e que tinhas sido abandonada pelo teu marido...o motivo seria o facto de ele não saber lidar com... bem... os escândalos em que estiveste metida...”, hesitei na última parte.

Ela tinha-se encostado para trás no sofá e olhava para mim incrédula.

“Só podes estar a brincar...se isso chega a público volta tudo de novo...”

Medo. Eu percebia que o principal sentimento da Lua era medo.

Hesitei novamente, não sabendo se deveria tentar convencê-la.

“Lua...se vier a publico essa história, eu vou estar ao teu lado.”
Ela riu-se, mas era um riso quase histérico de nervosismo.

“Vai ajudar muito...o meu ex-namorado traído a apoiar-me e dizer que eu não tenho marido nenhum...ou que o meu marido foi um idiota por fazer exactamente o mesmo que ele! Hilariante!”

Eu olhei para ela, percebendo que ela não tinha entendido completamente.

“Lua...o marido-mistério...seria eu...”

Ela olhou-me estupefacta.
(Lua)
“Agora sim, estou com delírios!”, pensei.

Ou então era o Arthur que delirava, com certeza.

Tentei fazê-lo entender o absurdo da situação.

“Arthur...a Luisa nunca aceitaria publicar uma história em que esse marido-mistério serias tu! Primeiro, porque ela sabe que é mentira... E segundo...”, e esta parte parecia-me tão óbvia que nem sabia como dizê-la, “se tu fosses esse marido...como te vingarias de mim se eras parte da notícia?!”

Ele sorriu.

“Mas isso seria algo que a Luisa não saberia. A identidade do marido secreto. E seria POR ISSO mesmo que viraria notícia com facilidade...”, sorri, “Imagina a bomba: Lua Blanco tem marido-mistério escondido há anos!”

Tive de me rir também.

“Estás a delirar. Completamente!”

Mas ele parecia convicto do que estava a dizer.

“Pensa comigo, Lua.”, e agarrou-me novamente as mãos, “Se tudo correr como planeado e pararmos a noticia a tempo...nada sairá a público. Se não conseguirmos pará-la...toda a gente vai apenas saber que tens um marido misterioso de identidade desconhecida. E será aí que eu entro...dizendo que isso é mentira. Que nós estivemos noivos sim, há 5 anos, mas que por um engano meu, te deixei e fui para Portugal, abandonando-te. Agora voltei, arrependido e disposto a reconquistar-te.”
Estava de boca aberta.

“Tu és louco! Completamente louco!”

O muito descarado limitou-se a rir, empolgado com a história.

“Um pouco. Mas a sério...pensa nisso. Se a história sair, pela primeira vez vai virar a teu favor. Quem fará o trouxa arrependido sou eu, que voltei para o Brasil só para reconquistar o meu amor perdido!... E tu, como muito bondosa que és...talvez possas pensar em perdoar-me!...” ele tentava soar sério...mas não conseguia esconder algum humor na descrição.

Cruzei os braços, encostando-me no sofá.

E se eu alinhasse naquela história sem pés nem cabeça?

Olhei á volta. Na verdade, já tinha perdido praticamente tudo com o último escândalo...teria assim tanto mais a perder com um novo, caso o plano louco do Arthur não desse certo?

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