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segunda-feira, 25 de março de 2013

Jogos do amor capítulos 91 à 93





91

Assim que ela pegou no sono, fui na ponta dos pés até a prateleira e retirei os ursinhos do Chay. Deixei os cartões das crianças, assim Sophia não iria notar exatamente o que eu havia feito. Ela dormiu durante toda a tarde, enquanto eu e meus pais nos revezamos para tomar conta dela.
Chay telefonou depois que as crianças deixaram o acampamento. Contei-lhe as novidades. Ele disse que o grupo da terceira série havia feito algo pra Sophia e perguntou se ele deveria trazer hoje ou esperar até o dia seguinte. Ainda teriam mais dois dias de acampamento, e eu pretendia trabalhar na manhã seguinte, mas disse para ele vir se quisesse. Não sabia se Sophia gostaria de vê-lo. Eu com certeza queria. Mesmo que não falasse nada com ele sobre ter perdido o Camarada, o seu rosto amigo e a sua firmeza seriam reconfortantes.
Ele chegou por volta das cinco e meia com um tubo de papel que, desenrolado, virava um grande retângulo de dois metros e meio de comprimento pintado com tinta grossa. As crianças tinham criado um auto-retrato. Cada uma pintou a sua própria figura numa multidão sob a tenda de um circo. Alguns desenharam uns balões saindo de suas bocas e escreveram mensagens para mim e para Sophia. Meu pai reconheceu Eugene imediatamente. Minha mãe leu os balões e percebeu logo quem era Janet. Eu amei o desenho de April, que não perdeu tempo desenhando todas aquelas presilhas de cabelo, mas simplesmente besuntou o seu cabelo de purpurina.
- Arthur os ajudou - disse Chay. - Aqui está o rascunho que ele fez.
Abri um pedaço de papel dobrado no qual Arthur havia feito um esquema mostrando os lugares de cada criança no desenho. Junto do rascunho, ele tinha grampeado uma pequena tira de papel com um recado: "Existe algo que eu possa fazer? Ligue".
Eu gostaria muito de ligar para ele. Gostaria muito que ele me confortasse. Queria ter Arthur como amigo, se era só assim que podia ser, mas não agora, ainda não. Prometi a mim mesma: só depois que eu superasse tudo o que eu sentia por ele. Afinal, como poderíamos nos tornar amigos que assistem a jogos de beisebol juntos, se eu não conseguia parar de olhar para os seus lábios e imaginar como seria dar um beijo nele?







92

Respirei profundamente. Chay colocou uma mão em meu ombro. Meus pais continuavam admirando o desenho.
- Vou subir e perguntar a Sophia se ela quer receber visitas - falei a ele. - Mas não fique chateado, Chay. Talvez ela não queira.
- Tudo bem, eu venho outra hora - ele falou, pegando as chaves do carro.
- Espere a Lua perguntar. Às vezes, a Sophia surpreende - minha mãe falou, pegando-o pelo braço.
Ela nos surpreendeu dessa vez. Subi as escadas com Chay e o acompanhei até a segunda porta à direita, então, fui com meus pais para a cozinha. Jantamos uma mistura das sobras que havia na geladeira. De vez em quando, os olhos da minha mãe se enchiam de lágrimas e ela dava umas piscadinhas. Pude ver meu pai segurando a mão dela por baixo da mesa.
Chay ficou por uma hora e meia. Eu tentava imaginar sobre o que tanto eles conversavam. De qualquer modo, se estavam tanto tempo juntos era porque Chay devia estar fazendo bem a ela.
Depois que ele saiu, mamãe e eu colocamos o jantar em uma bandeja para Sophia. Os olhos de mamãe estavam ficando cor-de-rosa novamente, e eu não sabia o que fazer.
- Vá sozinha - ela disse docemente -, leve a bandeja para Sophia. Se eu conseguir chorar bastante lavando a louça, vou me sentir bem melhor.
Segurei minhas próprias lágrimas e levantei a bandeja. Já estava no meio da escada quando a campainha tocou. Meu pai foi atender.
- Olá, Pérola - ele disse.
Tudo o que eu mais precisava: o consolo da Pérola. Mas ela estava sendo legal, eu disse a mim mesma com firmeza. Ela se importava comigo!
- Pérola e Luke - meu pai falou. - É Luke, não é?
Já estava no meio da escada quando me virei.
- Arthur - ele disse e olhou para mim.
- Oi, Pérola. Oi, Arthur. - Eu mal conseguia abrir a boca.
- Deixe que eu levo isso, Lua - meu pai se ofereceu. - Fique com seus amigos.
Depois que papai pegou a bandeja, eu me juntei a eles no primeiro andar. Permanecemos em silêncio no hall. Estávamos nos sentindo tão confortáveis com aquela situação quanto três estranhos num funeral. A última coisa que eu queria era ficar perto deles.
Pérola estava segurando um buquê de flores e apoiava a outra mão na cintura de Arthur.
- Trouxemos umas flores pra Sophia - ela disse. - Eu não sabia qual a flor preferida dela. Então, o Arthur me perguntou qual era a sua flor predileta. Espero que ela goste.
- Margaridas - falei, evitando olhar para Arthur. - São lindas. Sophia vai adorar. Obrigada.
- Chay me contou o que aconteceu - disse Arthur. - Eu sinto muito.
- Obrigada.
- Como ela está?- perguntou ele.
Aproximei meu rosto das flores - como se margaridas tivessem cheiro.
- Fisicamente, está bem. Mas vai precisar de um tempo até as coisas voltarem ao normal.
- Existe alguma coisa que a gente possa fazer? – perguntou Pérola.
"A gente. Nós." Eles realmente eram um casal agora.
- Acho que não, mas foi legal vocês terem vindo trazer as flores - minha voz tremeu.
- Ah, Lua, eu sinto muito - disse Pérola. E me deu um abraço apertado. Foi como nos velhos tempos.
Eu queria que fossem os velhos tempos. Queria que nós duas fôssemos as melhores amigas para sempre. Queria estar de volta aos namorinhos bobos, quando eu conseguia controlar os meus sentimentos. E queria mais do que tudo que Sophia conseguisse ser como ela era antes de ter sofrido por causa do Sam, e depois por causa de seu bebê.
Pérola me soltou. Arthur permaneceu imóvel, observando. O que ele estaria pensando? Eu queria saber. Se ao menos pudesse tocar a sua mão.
Então Pérola apoiou-se nele e o olhou.
- Vamos, Arthur. A Lua parece cansada. Eu disse que devíamos ligar antes de vir.
Ela andou em direção à porta.
Arthur não a seguiu. Ele me lançou um olhar tão intenso que tive a sensação de que podia ler todos os meus pensamentos.
"Mas ele não pode", eu me lembrei. "E isso é bom."
- Obrigada por ter vindo - eu falei.
Arthur abaixou lentamente a cabeça.
Pérola o puxou para perto dela e eles saíram, de mãos dadas.
Permaneci na escada, admirando as margaridas no meu colo. Tentei recordar a letra de uma das canções de ninar que o Arthur havia cantado no acampamento. Lembrei-me de como ele tinha me segurado perto dele e como, quando eu pensei que já estivesse dormindo, ele segurou minha mão. No fim das contas, eu sabia que alimentar essas pequenas lembranças só me deixaria mais deprimida. Mas eu estava no fundo do poço. E não conseguia abandonar o conforto da lembrança daquela noite em que Arthur chegou perto de mim.





       93

Arthur e eu mal nos falamos na quinta-feira; encontramos maneiras de permanecer ocupados. Agora eu só precisaria atravessar a sexta, que seria o nosso último dia no acampamento. Para celebrar isso, Chay havia organizado um dia de jogos e competições envolvendo as crianças. Ele tinha comprado sacolas cheias de prêmios especiais.


- Nenhuma criança pode voltar pra casa de mãos vazias - ele nos disse pela manhã. Nós premiamos vários sextos, sétimos e oitavos lugares naquele dia.
Na hora do almoço, as crianças viram os seus próprios desenhos numa exposição de arte organizada por Arthur do lado de fora da lanchonete. Os artistas não escondiam o orgulho, especialmente quando outras pessoas da faculdade paravam e admiravam os trabalhos.
Eu estava observando uma das pinturas feitas pelas crianças do Hau, em que se viam pessoas e animais com uma mistura de palavras em inglês e em vietnamita, quando uma outra pessoa parou logo atrás de mim. Não era Arthur. Eu sabia que ele estava mantendo distância, ficando do outro lado da exposição.
- Esses são demais, não são? - falei, virando a cabeça. - Luke! - exclamei.
- Oi, Lua - ele olhou para mim com aqueles suaves olhos verdes.
- Está gostando das nossas obras de arte? - perguntei.
- Elas são bem coloridas - ele replicou, sorrindo.
"Se algum dia ele vencer as Olimpíadas", pensei, "vai se tornar o sonho dos anunciantes."
- Mas algumas das cores não estão certas - ele acrescentou.
- Como aquela árvore azul.
- Eu amo aquela árvore azul.
- Parece que existem várias garotas de cabelo loiro nesses desenhos - ele continuou.
- Percebeu, é?
- Elas me fazem lembrar de você - ele disse.
- Mesmo? Obrigada.
- Tem um com uma garota de cabelo loiro vestindo uma camiseta cheia de corações.
Sorri.
- Foi o Miguel, o meu lançador de beisebol, que fez. Você se lembra? Eu te falei sobre ele.
- Escute, Lua, eu tenho uma apresentação de ginástica olímpica amanhã à tarde no ginásio Canton. Começa às duas horas. Vai ser bem legal de assistir.
- Então, espero que você tenha uma platéia bem grande - falei. - Boa sorte. Tenho certeza de que você vai se dar super bem, Luke.
- Começa às duas, mas talvez você tenha coisas pra fazer - ele continuou. - Mas os meus exercícios mais importantes só vão acontecer depois das três e meia. Então, você pode chegar mais tarde. Eu sei que vai gostar.

Continua.....

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