CAPÍTULO 08 Parte 3 - CARLA
- Meu irmão se chamava Arthur.
Ela estava de cabeça baixa. Tirei meus óculos e olhei pra ela.
- Arthur Queiroga Bandeira.
Ela ergueu os olhos assustada ao me ouvir pronunciar meu próprio nome. Seus olhos se abriram ainda mais e sua boca se abriu. Ela arfava e pensei que teria um ataque ali mesmo.
- Meu Deus... Você... Esses olhos... É você?
Ela chorava e nessa altura eu também chorava. Levantei-me e fui ate ela.
- Arthur... Arthur...
Carla também se levantou e se atirou em meus braços.
-É você, não é? Diga que é você.
-Sou eu, bruxinha.
Ela me abraçou mais forte ao me ouvir chamando-a como antes.
- Eu jamais me esqueceria desses olhos, Arthur. E seus cabelos... Meu Deus... O que aconteceu?
Eu sorri.
- Não sei. Ficaram assim.
- Carla... Não sabe o que vivi esses anos todos, pensando que estava morta.
- Eu também, Arthur. O que aconteceu? Como escapou?
- É uma longa e triste história, Carla.
-Vamos sair daqui? Vamos a um lugar mais tranquilo.
Fomos até um parque e nos sentamos sob as árvores.
- Eu me lembro apenas dos homens me tirando da cama dos meus pais.
- Então eu cheguei depois disso. Pensei que ainda estivesse lá. Graças a Deus você não viu nada.
- Mas o quarto ainda não estava em chamas.
- Não. Eles atiraram em nossos pais primeiro, Carla.
Ela deu um grito de horror e agarrou minhas mãos.
- Eu vi tudo e fugi. Acho que nem se deram ao trabalho de ver se eu estava lá. Chegaram atirando e atearam mais fogo.
- Isso é terrível, Arthur. Mas quem... Quem fez...
Eu a olhei profundamente e acho que ela deve ter entendido.
- Por causa das terras?
- Sim.
- E como viveu esse tempo todo, Arthur.
- Fui adotado por uma família muito especial, Carla. Eu os amo muito.
- Então é por isso que está com Lua? Para se vingar?
- Sempre perspicaz, Carla.
- Coitada, Arthur. É uma boa pessoa.
- Está sendo bem cuidada, Carla. Estamos só eu e ela.
- E você? Como tem vivido naquela casa?
Ela baixou os olhos e pressenti o pior.
- Estou bem.
- Nunca soube mentir, Carla. Quero saber de tudo.
De repente ela começou a chorar de novo. Abracei-a pelos ombros.
- O que foi, pequena? Pode confiar em mim, sabe disso.
- Não... Você ficará com mais ódio e descontará em Lua.
- Claro que não, Carla. Eu... Eu gosto dela.
Ela sorriu um pouco, apesar das lágrimas.
- Gosta em que sentido?
- Nesse mesmo que está pensando. Mas falaremos sobre isso depois. Agora me conte.
- Aquele... Aquele homem é horrível, Arthur. Eu o odeio... Tenho nojo dele.
- O que ele fez a você?
- A mim e a Soph.
- Carla, por favor, sem preâmbulos, fale logo.
- Nós somos como... Como esposas dele.
Eu me levantei aturdido.
- O que?
Ela chorava incontrolavelmente.
- Ele nos adotou... Simplesmente para servirmos a ele... Na cama.
- Maldito... Maldito...
Eu esmurrava a árvore, como se aquele demônio estivesse a minha frente.
- Eu devia te-lo matado... E não me vingar usando a Lua.
Sentei-me novamente, passando as mãos nos cabelos.
- Meu Deus, estou agindo feito ele. O que eu fiz com meu bebê?
- Bebê?
Eu ri.
- É assim que eu a chamo às vezes. Carla... Eu tenho que tirar você de lá.
- Mas... Como? Arthur ele virá atrás de você.
- Ate hoje não me encontrou. Aliás, como ele está?
- Acabado. Só vive na cama agora. Parece que morreu por dentro.
- Ótimo... A próxima agora será você.
- Mas... Arthur... E Soph? Não posso abandoná-la lá.
- Pegaremos a Sophia também.
- O que irá fazer?
- Dê-me um tempo, Carla. Tenho que fazer tudo calmamente. Preciso da ajuda dos meus irmãos.
- irmãos?
- Sim. São dois. Micael e Barnardo. Irá conhecê-los. Mas no momento, Carla, por favor. Tome cuidado. Não deixe que ele perceba nada.
- Pode deixar comigo, meu irmão.
Eu sorri e a abracei de novo. Era bom demais ouvi-la me chamando assim.
- Como descobriu sobre mim? Foi Lua?
- Sim. Disse que sentia sua falta. Quando ouvi seu nome fiquei louco. Aliás eu preciso voltar logo. Não gosto de deixá-la sozinha.
- Onde estão?
- Na ilha dos meus pais.
- Ilha... Caramba. Então são muito ricos?
- Sim, somos.
- E Lua, Arthur? Como fica nessa história?
- Fui um burro por usá-la, Carla. Eu... Acho que...
Ela esperou. Já não havia lágrimas, apenas um brilho divertido no olhar.
- Acho que me apaixonei por ela.
- Eita... E agora? O que pretendia fazer com ela?
- Fiz dela minha escrava... Na cama. Ficaria com ela até engravidá-la, depois iria devolvê-la.
- Grávida? Arthur, seu maldito... Viu o que fez? Quer dizer... Estão... Transando?
Pela primeira vez eu fiquei sem graça e senti meu rosto em chamas.
Creditos: Elly Martins - web do blog Nada Pode Nos Parar
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