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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Doce amor capítulo 85 a 88






— Não temos certeza — disse Lua. — Se bem que parece o retrato foi pintado por alguém que conhecia mui­to bem o assunto reproduzido.

Ela não conseguia encarar os pais. Claudia podia ser sua mãe biológica, mas Lua jamais a conheceu. Ela sa­bia apenas que Claudia era filha de Henry e Maria, alguém que nascera de Maria, que eles criaram e amaram.


— Não sabemos muito bem que tipo de relacionamen­to eles tinham — acrescentou.
— Não acredito que seja a nossa Claudia. — Maria ainda olhava chorosa, para o retrato. — Ela era tão linda, não era? Ela era adorável quando criança também. Mas quan­do fez 16 anos, bem... — interrompeu-se, olhando para o marido em busca de ajuda.
— Ela ficou um pouco doidinha — disse Henry, com tristeza, balançando a cabeça.
— Não sabemos o que aconteceu. Começou a sair o tempo todo, algumas vezes dormindo fora de casa. E, quando tentávamos conversar, ela simplesmente dava de ombros e continuava fazendo as mesmas coisas. E, por fim... Por fim ela fugiu de casa, aos 17 anos. — ele se jogou em uma poltrona.
— Ela amava tanto a vida — acrescentou Maria, em choque. — Mas nós não sabíamos mais o que fazer com ela, parecia que não conseguíamos nos comunicar com Claudia. Ela fugiu e não entrou em contato durante me­ses. E durante todo esse tempo nos mandou apenas uma carta. Nós nem mesmo sabíamos que ela estava grávida, até que recebemos uma ligação urgente do hospital. Mas era tarde demais. Quando chegamos lá, Claudia já havia morrido — ela soluçava. — Mas havia Lua — disse, sorrindo no meio das lágrimas. — E nós achamos que tivemos uma segunda chance, e que com Lua nós não cometeríamos os mesmos erros. — os olhos marejaram outra vez.
— Vocês não cometeram erro algum — disse Lua, para tranqüilizá-la, segurando firme a mão da mãe. — Nem com Claudia nem comigo. Vocês são os melhores pais que alguém pode ter — disse, certa do que afirma­va. — E, com o tempo, Claudia provavelmente teria se aquietado, talvez até mesmo se casado e dado mais netos a vocês.
— Ficamos de coração partido quando ela fugiu de casa daquele jeito — disse Henry, em tom grave. — Sem saber onde ela estava, o que estava fazendo. Então, como a Maria contou, depois de seis meses de silêncio ela nos escreveu, sem dar um endereço para que pudéssemos respondê-la, dizendo que tinha conseguido um trabalho como cantora num hotel no norte da Inglaterra...
— Em Leeds — afirmou Arthur, baixinho.
— Sim, isso mesmo — concordou o pai de Lua.
— Foi lá que ela conheceu Jack Garder numa noite, ao sair para jantar com amigos. Aparentemente ele se apaixonou por Claudia à primeira vista. Ela estava tão empolgada com o noivado. E nos escreveu dizendo que nós o conhe­ceríamos antes do casamento. — suspirou Henry. — Tudo isso parece tão inacreditável, tão... — ele balançou a ca­beça. — Ela tinha só 18 anos.

Lua olhou para o retrato da própria mãe, aos 18 anos de idade, com toda a vida pela frente. E dentro de um ano ela estaria morta.

Arthur também olhava para o quadro, para as diferenças que Lua nsistira em lhe apontar. Exceto pela marca de nascença, a mulher no retrato ainda parecia uma versão mais jovem de Lua, uma versão mais sábia e ao mesmo tempo mais crua. Mas não era Lua. Não era de se estranhar que ela tivesse ficado tão furio­sa com Arthur por ele não ter acreditado quando lhe dissera que a modelo do
retrato não era ela. Ou quando negara ter sido noiva de Jack Garder ou de ter um caso com Andre Souter.
E a inocência de Lua minava a outra acusação de que fora vítima: a de ser uma aproveitadora...

Arthur estava olhando-a agora, para aqueles belos olhos que o intrigavam, a fluidez sensual do corpo que o con­quistara, a inteligência que o estimulava. E agora sabia que Lua não queria dinheiro, ele con­cluíra tal coisa sem que ela tivesse chance de dizer o que queria. Naquele momento Arthur
percebia que Lua só concordara em se casar porque ele ameaçara lhe tirar o bebê caso não o fizesse.

Pensando em Luke, na dor que sentira quando o filho morreu, em como Sarah sofrerá ao perder o filho também, Arthur entendeu que Lua devia odiá-lo por ameaçá-la de fazer o mesmo se o casamento não se consumasse.

Ele esperava mesmo ser capaz de sustentar um casa­mento baseado em ameaças e no medo que Lua sentia de ficar sem o bebê?

Os sinais eram claros, e Arthur os teria visto se não tives­se ficado cego pelo comportamento imperdoável. O fato de Lua não aceitar o enorme anel de diamante, o desgosto em relação ao carro caro, a recusa em deixar o emprego e ser sustentada por ele. Mas ele preferira pensar que ela estava
apenas fingindo não estar interessada naquelas coisas, e que começaria a fazer exigências assim que se casassem.

Que tipo de homem cínico ele se tornara? Ou melhor, como Arthur podia esperar que Lua se apai­xonasse por ele depois de tratá-la daquele jeito?

— Você não acha que Jack Garder é seu pai? — per­guntou Maria para Lua.

Ela sorriu, sem graça.

— Olhe para o retrato, mamãe. O que você acha?
— Hum... — Maria deu um risinho. — Acho que Andre Souter estava apaixonado por Claudia.
— Mas será que ela estava apaixonada por ele? Essa é a questão.
— Eu acho que sim — disse Henry, refletindo. — Veja para o rosto dela, o brilho. É um brilho que só existe no rosto de uma mulher que está verdadeiramente apaixona­da — concluiu. — O que você acha, Arthur?
— Acho que não é o tipo de quadro que você pendura sobre a lareira — afirmou.
— Só mesmo no quarto de um homem, não é? — Lua virou-se para rir de Arthur, mas franziu a testa ao ver a ex­pressão no rosto dele, sentindo a raiva que ele emanava.

O que havia de errado? Ela tentara lhe contar tudo aquilo quando vira o retrato pela primeira vez, que não era ela, e sim sua mãe, então por que... Esse era justamente o problema. O fato de Lua estar certa. E ele, enganado. Sobre ela, principalmente. Ela o estudou. Arthur, percebendo, virou-se para Lua. E os olhos azuis que brilhavam tanto e com tanta raiva que ela teve de dar um passo
para trás. E ele, obviamente, não gostava de estar errado!

—Também acho — acrescentou Arthur, determinado — Já que Claudia e Jack Garder estão mortos, só há uma pessoa neste triângulo amoroso que pode nos con­tar a verdade. Precisamos entrar em contato com Andre Souter.
— Eu já tentei falar com ele, sem sucesso — relevou Lua, mostrando-se decepcionada.
— Tentou?
— Sim — confirmou, defensiva. — Eu dei uma carta e uma fotografia ao agente dele. Isso foi na sexta-feira. E até agora não recebi nenhuma resposta — contou Lua aos pais.
— Uma fotografia? — perguntou Arthur, desconfiado.
— Minha — disse-lhe Lua. — Você mesmo dis­se, Arthur. Minha semelhança com a mulher do retrato, Claudia, é coincidência demais. Eu esperava que An­dre Souter pensasse o mesmo e percebesse que eu era a filha de Claudia, possivelmente filha dele também. Mas ele não respondeu, então minha teoria deve estar errada.

Lua estivera ansiosa também, ansiosa para esfregar a verdade na cara de Arthur, para provar que ele estava enganado. Claro que Maria e Henry acabaram fazendo isso por ela ao explicarem exatamente quem era Claudia, mas Lua ainda estava triste por Andre Souter não ter se dado ao trabalho de lhe responder.

— Não necessariamente — resmungou Arthur. — Hoje ainda é segunda-feira — disse. — Não sabemos ao certo quando este agente encaminhou a carta. Talvez Andre Souter não a tenha recebido ainda. Era uma possibilidade...
— Você acha que ele ainda entrará em contato? — per­guntou Lua.
— Acho que é possível, sim — concordou Arthur. — E, se isso não acontecer, eu mesmo vou me encontrar com este agente. Você precisa descobrir toda a verdade.

Precisa? Ou será que é Arthur quem precisava?

— Enquanto isso, Lua vai ao médico hoje à tarde. Vamos conversar com ele sobre o histórico de Claudia e veremos se Lua tem o mesmo problema.

No calor da conversa, Lua se esquecera daquela consulta. Mas Arthur, claro, não se esquecera. Ele pensava mesmo que, só porque a mãe dela morrera no parto, o mesmo poderia acontecer a Lua?

E mesmo se pensasse tal coisa, será que não percebera que não podia resolver tudo, que não seria capaz de ter o bebê e de se livrar daquela aproveitadora, tudo ao mesmo tempo?

— Anime-se, Arthur! — disse Lua depois que saíram do consultório médico. — Isso pode não acontecer!

Já aconteceu, pelo que ele entendia. O prognóstico de Neil Adams fora excelente. Ele os tranqüilizou dizendo que Lua não teria o mesmo proble­ma durante o parto e que, mesmo se tivesse, agora seria capaz de lidar com a situação. O médico lhes dissera para voltarem no mês seguinte, quando então Lua seria exa­minada. Eles deveriam curtir a gravidez.
Mas isso era algo que Arthur não deixara Lua fazer até agora! Claro que eles só ficaram sabendo da gravidez há pou­cos dias, mas Arthur sabia que tornara aqueles dias um in­ferno para Lua. E, mesmo assim, ela parecia feliz e radiante!


Arthur ainda estava chocado por descobrir que aquele re­trato era de outra mulher. Claudia, a mãe de Lua. Como ela deve ter ficado impressionada quando ele lhe mostrou o quadro, sabendo que as acusações de Arthur eram infundadas. Deus, chegava a doer quando ele se lembrava das coi­sas horríveis que lhe dissera! Acusações que certamente mereciam um pedido de desculpas.

Arthur sabia, porém, que devia mais do que isso. Ele de­via a liberdade a Lua, além do apoio emocional e finan­ceiro, durante toda a gestação e depois...

Na quinta-feira ela estava tão certa de que não estava grávida, tão convicta de que não poderia estar, que ficou totalmente abismada quando o teste deu positivo. E o que Arthur fizera? Crente de que Lua fora noiva de Jack Garder e depois tivera um caso com Andre Souter, ele a acusara de engravidar intencionalmente para conseguir um marido milionário! Quando o que deveria ter feito era tranqüilizá-la de que tudo daria certo, de que ele cuidaria dela durante a gra­videz; Arthur deveria ter dito que Lua não precisaria se preocupar com o bem-estar do bebê, porque ele tomaria conta dos dois.

Ele deveria ter feito isso sem exigir nada, sem nem pensar que ela pudesse se casar com ele, muito menos forçá-la a fazer tal coisa!

Arthur olhava para Lua, admirando-lhe a beleza. Era estranho, mas ela parecia ainda mais linda depois que o médico confirmara a gravidez. Parecia que adquirira um brilho próprio, com os olhos de um dourado profundo e o rosto branco e corado. Ela era tudo que Arthur podia querer numa esposa. Mostrara-se leal e afetuosa em relação aos pais, compreen­siva quanto à mãe que morrera no
parto e, acima de tudo, suportara a grosseria de Arthur quando, por dentro, devia estar gritando que era inocente.

Sim, Lua fora boa demais para Arthur, e ele precisava deixá-la em paz.


Continua.....


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