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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Doce Amor capítulo 94 a 96




— Posso continuar a trabalhar na galeria até... Até...
— Trabalhe na galeria o quanto quiser... Se quiser. Você é quem sabe — ele respondeu. — Vou informar a Jane da sua decisão, qualquer que seja ela.
— Eu só...
— Lua, vamos entrar? O quadro pesa uma tonelada! — ele deu um risinho, apoiando a pintura sobre o joelho. — Eu provavelmente terei uma hérnia por subir as esca­das carregando esta coisa!

Lua sorriu.

— Você...
— Desculpe — uma voz os interrompeu. — Estou pro­curando um apartamento... — a pessoa se silenciou de imediato.

Lua virou-se ao ouvi-lo, o olhar ficando mais e mais intrigado quando o homem parou de falar. Ele perdeu a cor lentamente, sem se mover, encarando-a.

— Claudia...? — perguntou o homem, sem poder acreditar.

Só havia um homem no mundo que a confundiria com a mãe.

Mas não podia ser...!

— Andre Souter? — perguntou Arthur, mas nem Lua nem o homem que a encarava, maravilhado, pare­ciam capazes de responder.
— Sim — confirmou o artista, numa voz embargada, sem tirar o olho de Lua nem por um momento.

Arthur sabia o que o outro homem estava sentindo, ele também não queria parar de olhar para Lua! Mas ele sabia que o fascínio daquele homem por Lua era causado por outros motivos... Ele reconheceu Andre Souter das fotografias que vira, se bem que o pintor estava mais velho, claro, o cabe­lo escuro cheio de partes brancas, o rosto cheio de rugas e os olhos tinham um tom cinza. O pai de Lua. Ou não. Isso realmente não era relevante naquele momento. O fato é que Andre Souter se importara o suficiente, ao receber a carta de Lua, a ponto de ir a Londres pesso­almente em vez de apenas responder-lhe por escrito ou telefonar.

Lua não deixou o fato passar despercebido. Ela engoliu em seco, incapaz de se mexer ou de parar de olhar para o homem que poderia ser pai biológico dela. Os dois ficaram ali, encarando-se mutuamente.

Andre Souter foi o primeiro a se recuperar, balan­çando a cabeça, surpreso.

— Claro que você não é a Claudia — ele murmu­rou. — Você é jovem demais. Mas a semelhança... A se­melhança... — ele ficou em silêncio, emocionado para continuar.
— Impressionante, não? — disse Arthur.

Lua sabia que foi por causa daquela semelhança que Arthur cometera tantos erros a respeito dela, e ele não era um homem de cometer erros.

— Meu nome é Lua — ela disse ao homem. — Você recebeu minha carta?
— Sim — ele sussurrou, e ela o encarou mais uma vez. Andre Souter era um homem envelhecido, de apro­ximadamente 50 anos, alto e belo, com olhos cinza que pareciam capazes de enxergar a alma do interlocutor.

Olhos de artista, pensou Lua. Olhos que viam além da aparência externa e alcançavam o coração da outra pes­soa. Será que aqueles olhos viram além da ingenuidade juvenil de Claudia...?

— Gostaria de entrar? — ela convidou, timidamente, ao abrir a porta do apartamento, sabendo que Arthur ficaria ali, em pé, até que o velho entrasse, para só então o seguir, carregando o quadro. O quadro...!

Ele previu o pedido de Lua e colocou a pintura sobre a mesa antes de desembrulhá-la. Então, virou-se para olhar o artista ao apoiar a obra contra a parede. Andre Souter ficou ainda mais branco. Ele parecia tomado do mesmo estupor que atingira primeiro Lua e depois os pais dela quando viram o
retrato. A diferença era que ele pintara aquele quadro e já co­nhecia todas as pinceladas, todas as nuances de tons do belo rosto e corpo de Claudia.

— Eu achei que jamais veria este retrato novamente — murmurou o pintor, olhando para a própria obra, maravi­lhado. — Como você o conseguiu? — perguntou, ansioso.

Arthur respondeu-lhe.

— Comprei-o do sobrinho-neto de Jack Garder de­pois que ele morreu.
— Claudia! — emocionado, Andre Soutern tinha dificuldades para falar. — Eu tentei comprar este quadro de Jack Garder depois... Depois que Claudia morreu. Mas ele se recusou a vendê-lo.
— Ele jamais se casou — informou Arthur, calmamente.
— Não. — suspirou Andre. — Depois de Claudia, como ele poderia? Minha querida Claudia...! — Souter cobriu o rosto com as mãos e começou a soluçar.


Este homem, Arthur começou a perceber claramente, amara Claudia com a mesma profundidade e o mesmo de­sejo desesperado que ele possuía por Lua. Mas por algum motivo ainda obscuro, Andre Souter perdera Claudia. Será que Arthur realmente permitiria que o mesmo acon­tecesse
entre ele e Lua?

— Sinto muito — ela murmurou, dando um passo para frente e colocando a mão sobre o ombro trêmulo de An­dre Souter.

O artista levantou o rosto, úmido de lágrimas.

— Você sente muito? — ele perguntou. — Eu deixei esta bela mulher escorrer de minhas mãos como ouro der­retido, e você é quem sente muito? — ele balançava a cabeça, aparentemente contrariado. — Eu devia ter agi­do antes. Eu devia jamais... — ele não conseguiu dizer. — Eu passei os últimos 26 anos procurando por um sinal dela, só para vê-la sorrindo daquele modo inconfundível, para conseguir abraçá-la novamente!

Não!, gritou Arthur, para si. Ele não faria o mesmo com a própria vida, não abriria mão de Lua sem dizer o que sentia por ela. E se tentasse, talvez pudesse!, convencê-la a amá-lo com um pouco do amor que ele sentia.

— Foi por causa de Claudia que o senhor parou de apa­recer em público? — perguntou Lua. — Foi por isso que o senhor parou também de pintar retratos? — ela insistiu, ao perceber que aquilo fazia sentido.
— Sim, depois que a perdi, desisti dessas coisas — confirmou Andre Souter. — Eu mudei minha vida completamente depois de fazer aquilo!

Lua o olhava, intrigada.

— O que o senhor fez?

Ele balançou a cabeça.

— Claudia estava prestes a se casar com Jack Garder quando ele me contratou para pintá-la, e eu era casado, mas infeliz, se bem que não faz diferença. Nós... Nós nos olhávamos e nem Jack nem minha mulher pareciam se importar.

Ao menos Lua tinha uma explicação plausível por que Claudia, depois de romper o noivado com Jack Garder, ficara sozinha, em vez de ir morar com Andre Souter. Porque ele já era casado...

— Mas por que, se vocês se amavam, o senhor a deixou para que ela tivesse o bebê sozinha? — Lua ficou séria. — Ou o senhor não a amava o suficiente para se separar da sua mulher?

Tudo aquilo parecia familiar demais para Lua. Era a história se repetindo. Bem, não exatamente, corrigiu-se. Arthur não a amava, mas a estava deixando grávida e sozi­nha e voltando para a ex-mulher.

— Claro que eu a amava o bastante para me separar! — os olhos do pintor brilhavam, emocionados. — Mas nós brigávamos muito. Claudia... Ela não acreditou quando eu disse que me separaria para ficar com ela. O que eu realmente fiz. E fui me encontrar com ela no mesmo dia para contar, para dizer que eu só queria ficar com ela, queria que ela morasse comigo. Claudia nunca me disse que estava grávida! — gritou Andre, com esforço. — Ela estivera comigo no dia anterior, mas quando voltei, no dia seguinte, para dizer-lhe que não podia viver sem ela, que a amava... Ela partira. E eu nunca mais a vi. — ele fechou os olhos, como se quisesse se livrar da dor.


Continua.....

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